A Política como Vocação
(1919), de Max Weber é um livro fundacional. Ele conta ali a história do
sujeito que deixa de amar a esposa e passa a gostar de outra. Claro, ele
abandona a primeira em favor da segunda. Não contente com apenas fazer isso,
ele sente-se obrigado a oferecer para
si mesmo uma explicação para seu gesto. Ao invés de dizer
simplesmente (para ele e para a deixada) que não gosta mais dela, ele elocubra
razões para sua decisão e diz, por exemplo, que ela o decepcionou por isso e aquilo e aqueloutro.
Assim, como se não bastasse o fato de ter sido abandonada, a cuja vira culpada.
E o sujeito acha uma legitimidade qualquer em virtude da qual ele pretende ter
razões para fazer a troca de mulheres. Com esse curioso exemplo Weber que
introduzir uma das dificuldades da política, que ele chama de o vício clerical de querer ter
sempre razão.
Para explicar-se melhor, Weber continua com a história desse tipo de sujeito.
Quando um homem assim assim compete com outro homem pelo amor de uma mulher
(nos tempos atuais a gente teria que adaptar o exemplo, não? Mas deixa assim,
por enquanto...) e vence, ele fica convencido que seu rival vale menos, pois
perdeu a batalha para ele.
Assim pensa o sujeito: quando ele ganha, é porque tem razão. E quando ele
perde, é porque ... tem razão!
O que é a ética, nessa perspectiva, senão apenas um meio do sujeito se
convencer que a razão está sempre com ele? O sujeito da história de Weber nunca
perde uma batalha, nunca perde uma eleição e nunca perde uma greve. Afinal, ele
está santificado pelos fins que proclama com sua boca grande e alma mais
inflada ainda. Ele sempre está à cavalo na razão. Tem razão quando ganha, tem
razão quando perde.
Os valores do cavalheirismo, da dignidade e da objetividade são apenas uma flor
roxa e murcha no altar de suas boas intenções.
A política, entre nós, parece ser feita cada vez mais com cavaleirismo.