IDOSOS
EMANUEL
MEDEIROS VIEIRA
Quanto vale
um idoso no Brasil? Muito pouco – ainda mais sendo pobre.
Além da
vulnerabilidade emocional própria da idade, dos remédios que precisa tomar (e
muitas vezes não tem condições para comprá-los), sente que o modelo (ou
sistema, governo, seja qual nome for) não se interessa por ele. É como uma
laranja que já foi espremida e pode ser jogada fora. No lixo (no contexto do
modelo mercantil no qual vivemos).
Não é só o
governo. Muitas famílias não se interessam por eles. Talvez só aspirem o seu
dinheiro, o seu salário. Sofrem a conspiração do silêncio, quando não são humilhados,
judiados e ofendidos.
É claro:
não é regra geral o que foi escrito acima.
Há muitas
famílias que valorizam o idoso: reconhecem o que fizeram, têm amor por eles,
espelham-se na sua trajetória.
O
Estatuto do Idoso foi sancionado em 2003, após 11 anos de lutas. Muitas de suas
cláusulas não são obedecidas pela sociedade.
Dados do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) informa que a população
idosa no Brasil já alcança 26,2 milhões, e a estimativa é de que nos próximos
20 anos esse número mais que triplique.
Lamenta
Marise Costa Sansão, presidente da Federação das Associações de Aposentados e
Pensionistas e Idosos do Estado da Bahia (de onde escrevo): “Não adianta se ter
uma longa vida, mas sem dignidade porque a situação da maioria dos
idosos baianos não é boa, pois 75% recebem aposentadorias de um salário mínimo
e a maioria está em situação difícil devido ao acúmulo de empréstimos
consignados”.
Também João
Bastos Freire Neto, presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e
Gerontologia, chama a atenção sobre princípios básicos para que o cidadão viva
com dignidade, através de um preparo para o envelhecimento populacional em suas
diversas esferas: saúde, social, educação, econômica.
“Os números
mostram que estava nova realidade do perfil populacional não só bate à porta,
mas a escancara. É preciso estabelecer novas diretrizes para atender às
demandas da velhice”, pondera o presidente.
Ele também
observou que a “ONU vem lutando pelos nossos direitos em outros países, onde os
idosos são tratados com dignidade, mas aqui a repercussão é mínima. Não temos o
apoio dos governos para nosso direitos”.
O Sistema
Único de Saúde (SUS) não está preparado para amparar a população idosa.
Ocorre
ainda a discriminação do idoso por parte da sociedade, principalmente em
relação á reinserção no mercado do trabalho.
Muitos
idosos se aposentam (mesmo aptos para continuar na labuta), mas continuam a
trabalhar, pois os rendimentos da aposentadoria não dão para sobreviver.
E o idoso,
muitas vezes, não encontra oportunidade no mercado do trabalho.
Perdoem a
platitude ou o lugar-comum: despreza-se o idoso, esquecendo-se que um dia todos
o serão – se não morrerem antes.
Tenho a
tentação de terminar com uma palavra de ordem – paródia do que se dizia no
movimento estudantil – “Idosos do Brasil: Uni-vos” – mesmo sabendo que eles já
estão fragilizados, física e emocionalmente.
(Salvador,
maio de 2015)