Amigos deste valioso espaço
de troca de informações e cultura.
Incentivado pelo comentário de João Francisco
Rogowki, ouso apresentar alguns dados para reflexão e debate, jornalista que
sou, parceiro dessa transição do produto “informação”.
A transição de O SUL para a mídia eletrônica não é um
fato isolado no contexto da modernidade da comunicação. É, antes, reflexo de
uma espetacular crise que atinge há bom tempo a todos os órgãos de comunicação
nacionais. Crise agravada mais recentemente pela alta do dólar, turbinando os
gastos com a importação de papel jornal.
Ainda ontem, o jornal O Estado de S.Paulo começou mais
uma série de demissões na empresa que, segundo “notícia de jornal”... deve
chegar a 125 funcionários.
Na última reunião da Associação Nacional de Jornais
(ANJ), os patrões pintaram o quadro dramático das empresas de jornalismo
impresso. O noticiário eletrônico avançou com força que não se imaginava,
a ponto de já não se precisar nem dos confortáveis tablets para saber sobre a notícia
do dia. No sacolejo do ônibus já é possível ler no minúsculo celular quem será
o atacante do Inter no clássico do fim-de-semana ou que o ministro tal acabou
de ser demitido.
E foi essa instantaneidade que os jornais não souberam
enfrentar. Na edição seguinte, um dia depois, a notícia será exatamente aquela
que já se sabia “ontem”, que se reviu no jornal da noite, no noticiário
esportivo da Rádio tal, esgotado na mesa redonda do fim de noite da TV etc. Mas
os jornais insistem, na manhã seguinte, que “Dilma demite o ministro Pedrinho”.
Que atrativo tem tal manchete para incentivar a compra
de um exemplar do jornal, que não se modernizou para enfrentar a concorrência
da instantaneidade do rádio, as corres e movimento da TV e a velocidade da
internet? Os jornais foram “atropelados” e não sabem como operar a dualidade da
internet e da edição de amanhã. Trabalhei numa empresa que enfrentou esse
dilema. Tínhamos a notícia espetacular, o “furo”, que em vez de ir para a rede
era guardada para a edição impressa de amanhã. Não raras vezes, nossa notícia
exclusiva apareceu no noticiário da internet na madrugada que o jornal estava
sendo rodado com a “grande informação”. A falência passou por aí.
O pior é que as faculdades de jornalismo continuam
ensinando os alunos a fazer notícia para o jornal de amanhã, quando o consumo
da informação ocorre com velocidade vez mais impressionante.
Anúncios
A queda de anunciantes é visível, e o desaparecimento
dos classificados também. Hoje, compra-se carro e aluga-se casa ou
apartamento pela internet, com a vantagem de falar com o dono do imóvel pelo
“face”...
E o governo, principal anunciante até há pouco tempo,
redireciona suas verbas para outros veículos com maior audiência, e aí está
mais um motivo para a triste agonia econômica do jornalismo impresso.
Tudo isso estava previsto já em 1970, quando o
canadense Marshall McLuham escreveu o clássico “Os Meios são as Mensagens”,
best seller dos estudantes de então.
Filósofo, educador, intelectual e teórico da
comunicação, McLuham mostrava, há meio século, que os meios de comunicação se
tornariam uma extensão do homem. É dele também a teoria sobre a “aldeia
global”. Isto é, chegaríamos a uma evolução tecnológica tão avançada que o
mundo se tornaria uma comunidade só, uma “aldeia global”, com comunicação e
troca de informações instantâneas. Está aí o celular com todos os seus
infindáveis recursos a mudar o comportamento humano, social e familiar.
A tudo isso poderia acrescentar a cultura nacional,
que não contribui para o hábito da leitura de jornais, revistas ou livros. Ou o
custo das publicações imprensas etc.
Enfim, são rápidas considerações para mostrar que o
gostoso hábito de ir à banca comprar jornal para “ler as últimas” já é
real volta a um passado do qual fomos “felizes” protagonistas, principalmente
porque estamos participando de toda essa transição da modernidade.
José
Cruz
jornalista
gaúcho, há 35 anos em Brasília, atualmente no UOL Esporte
José Cruz [jcruzz@uol.com.br]