Os
povos vão se moldando e mudando de acordo com suas circunstâncias. Certo dia,
em Tunis, capital da Tunísia, num congresso de magistrados, estava com
colegas num restaurante. Como sou um dinossauro, tendo estudado
quatro anos de francês no colégio, falei em “français” com o garçon. Todos,
naquele país, são, no mínimo, bilíngues: árabe e francês ( por causa da
dominação secular). Notei que o garçon sempre me servia em primeiro lugar. Eu
não era o mais velho da turma, nem o mais novo e decidi lhe perguntar a razão
disso:
-
porque você é o chefe, respondeu ele em francês.
Ele
deve ter raciocinado assim: só esse cara fala comigo; logo, ele é o líder
. Na verdade os demais nada sabiam de francês.
No
Hotel Abu Nawas perguntei onde poderia comprar uma bolsa de couro de
camelo. O rapaz da recepção me indicou o local e me disse.
-
não pague o primeiro preço que lhe pedirem e mostre seu passaporte de
brasileiro, que daí o preço vai baixar mais ainda.
Fiquei
todo orgulhoso da boa fama dos brasileiros.
Depois
ele me explicou que minha cara branca e meus olhos azuis fariam crer que eu era
alemão ou inglês. Decepção, pois eu pensava que era por causa da simpatia que
teriam em relação a nós. Mas não era bem isso.
Voltando
a nossos pagos, andei, como juiz, por tudo quanto é canto. Que experiência rica
ter saído para haurir tantas experiências e conhecer diferentes costumes!
Lá
nos anos 70 era assim: a alemoada se mijava de medo de Justiça e Polícia. Em
Horizontina, que na época era uma cidadezinha cheia de barro, eu acalmava as
testemunhas até lhes falando em alemão. Na zona da campanha era super
interessante ( hoje mudou). Não tinha nhenhenhe de briguinhas de palavras entre
comadres. Um peão de estância quer
tirar as botas quando lhe ofereces uma carona. Te dá senhoria e é altamente
discreto. Mas grita com ele para ver o que te acontece. Ou mexe com a filha
dele. Na campanha a autoridade só é estimada se se fizer respeitar.
Ninguém lhe dá muita bola se for meio chegado na bebida ou relaxado em
pagar as contas.
Corta para a
região de imigração alemã e italiana
Em Arroio do Meio fazia 30 anos que não havia um homicídio. Um dia
um sujeito de P. Alegre matou um de Esteio num salão de baile .
O
Juri foi no Club Comercial de Arroio do Meio. A cidade parou. O dr.
Koerbes, que era dentista, e fazia parte da lista de jurados, se chegou a mim
na véspera do Juri:
-
dr. ! dobra o papelzinho com meu nome de um jeito diferente para eu ser
sorteado. O que eu mais quero na vida é ser jurado....
Falei
assim: “ olha amigo, estou começando a carreira e não vou olhar se tem gasolina
no tanque acendendo um fósforo...”
Ele
foi sorteado, mas o Promotor o recusou.
Até
hoje ele acha que foi tudo combinado.