E agora é tudo com eles. A inflação não vai subir,
conquanto gastemos no cartão e em futilidades muito mais do que ganhamos e
podemos pagar. O Judiciário vai ser mais célere, inobstante não queiramos pagar
alimentos a quem é nosso filho, inobstante nossa continuada litigância de
má-fé; sem embargo de teimarmos em opor exceções para não adimplir contratos
livremente pactuados, sendo as partes de suficiência equilibrada, o que
inflaciona demasiadamente o número de processos. Os professores e as
professoras irão ensinar bons modos e ética aos nossos filhos, apesar de
piscarmos os faróis de nossos carros avisando que tem Polícia com radar logo aí.
Continuaremos a pensar que a culpa é toda sempre do vizinho que, por
ultrapassado, não compactua com o nosso som alto até 5 da manhã.
Esperamos que nossos governantes solucionem os problemas ambientais enquanto
atiramos garrafas de plástico pela janela do carro e metemos pilhas velhas no
saco de lixo comum. É claro que, ante qualquer contrariedade a nossos
interesses, nos ligaremos a mais uns dez e fecharemos a rodovia e que se ralem
os doentes, os estudantes, as pessoas que querem trabalhar. Continuaremos, no
ano novo, a vestir as ridículas roupas que a TV nos impuser, para dar os 7
saltos nas ondas, o que nos salvará de qualquer abismo e resolverá nossos
problemas financeiros. Quando sumirem objetos de valor e aqueles dólares
escondidos dentro de casa, continuaremos a culpar a empregada ou a
faxineira: capaz que foi alguém da família. Os novos governantes, que
trabalharão no Poder Executivo serão os culpados por não nos darem acomodações
condignas para nos recuperarmos do vício do crack. Continuaremos esbravejando
contra a má qualidade do ensino da Faculdade X quando nosso filho não passa no
Exame da Ordem: culpa da faculdade e de seus professores; jamais de nossos
inocentes rebentos que dormem o dia inteiro. Vamos, então, agora, sem perda de
tempo, atrás de uma CC, ou melhor, de um Cargo em Comissão para nossa
inteligente filha: isso de concurso público é tudo marmelada, são cartas
marcadas, melhor ela se encostar num “ osso”. No futebol, vamos urrar de
satisfação quando o atleta de nosso time simular uma falta e o árbitro embarcar
na esperteza.
Se nada disso der certo – culpa das autoridades. Aguardemos
as próximas eleições. Quem sabe nosso messias de verdade um dia chegue, mas,
como sempre, “ é tudo com ele”.