Quando
criança eu era fissurado em caminhões. Tinha um, grande, de madeira. À
noite o deixava estacionado ao lado de minha cama.
Meu
pai tinha um de verdade: era um Chevrolet verde. De vez em quando eu o
acompanhava a P. Alegre, para buscar uma carga de coca-cola. Saíamos
ainda noite escura de Santa Cruz, passávamos a balsa em Rio Pardo, rumo a
Pantano Grande. De lá, estrada de
chão, que hoje é a BR 290, até Guaíba. Lá ,a
barca até P. Alegre. Viagem de 6 a 8 horas.
Já
morando em P. alegre, eu era freguês do caminhão do Sr. Piccinin.Eu ia na rua Hoffman, onde ele carregava e vinha
com ele a S. Cruz, pois não tinha dinheiro para o ônibus.
Como
juiz em Santiago, conheci o médico dr. Plada, já falecido. Ele tinha um
caminhão só para pescarias. Na carroceria coberta havia camas, tulhas para
mantimentos. Não preciso nem dizer que essas
pescarias eram para churrascos, carreteiros e cervejadas. Além de “
causos” e anedotas.
Nesse
meio tempo , ao viajar pelas estradas, me comprazia em olhar aqueles caminhões
altaneiros, sempre acalentando o sonho de um dia ter um. Para que, não sabia.
Até
que, por essas coisas do destino, casei com uma mulher de origem
campeira. Daí a ingressar no agronegócio foi um tapa.
Fomos
crescendo e crescendo e chegou a hora de nossa estância ter um caminhão
boiadeiro.
Comprei
um lindo Ford Cargo,zero bala, apto a carregar umas 20 novilhas e que também se
prestaria a trazer nossos animais para a Expointer, além de entregar nas
estâncias os animais vendidos ( o que facilitaria os negócios, coisa lógica).
Mandei
fazer a carroceria a capricho, toda de vermelho, com os dizeres Pecuária
Gessinger nas laterais.
Por
achar meu capataz muito xucro e barbeiro,eu a e minha mulher fomos a Auto
Escola fazer a “ carteira D”. Eu “ rodei” no primeiro exame prático, mas passei
no segundo.
Indizível
minha emoção quando, carregando nossos animais para a Expointer, iniciei
o trajeto de 550 kms até Esteio. Caminhão é um bichão enorme e ainda com carga
viva você praticamente não pode ultrapassar ninguém.
Mas
meu grande desafio era não fazer fiasco na hora de entrar no Parque e
encostar de ré no desembarcadouro, não podendo encostar enviezado, se não
o animal não quer sair do caminhão. Entrei no portão ,fui l lááá na
frente, aprumei bem direitinho e vim dando ré , me orientando pelos dois
espelhos. Eu tinha treinado muito na
fazenda, mas ali eu estava tenso. Imagina dar uma trompada, estraçalhando
a traseira da carroceria. E fui indo, até que um “ colega” caminhoneiro abriu
os dois braços sinalizando que faltava cerca de um metro. Fui indo e ele
diminuindo o tamanho até que ficou com as palmas das mãos quase juntas. Fui ao
freio suavemente, quase parei e só deixei correr pela inércia mais 10 cm e o
meu Cargo pousou suavemente.
Meu
coração batia loucamente e minha emoção me marejou os olhos de lágrimas.
Coisas
de guri...