Ah, Maestro Gessinger!
Lindo tema escolheste!
Justo agora que venho de uma
das minhas ocasionais 'recaídas diplomáticas', quando esbravejo espargindo
toxidez. Me vejo, neste momento, cheio de dedos [sem trocadilho] para digitar
um comentário simples e despretensioso. É a hora de baixar o tom do meu discurso, afinal, nem tudo na vida
é ideologia e política, há também a filosofia, a contemplação do belo, enfim, O
SOL TAMBÉM SE LEVANTA*.
Sabes, amigo Ruy, da minha
dificuldade em manter sob controle as tais "feras imprevisíveis que rugem
dentro de nós", me parece, às vezes, que os meus métodos de contenção são
inadequados e negligencio os possíveis estragos que minhas feras causam.
Sou o meu crítico mais feroz
e nada que eu deixe passar na minha prédica, está livre de recriminação. Não é
muito o que me agrada falar sobre mim mesmo, em geral, tenho pouco para
acrescentar ao conhecimento humano e, nas poucas vezes que arrisco, à mim soa
repetitivo ou plagiado [assim, muito do meu pensamento tem sido destinado à
lixeira].
Conheço-me a mim mesmo, como
o que se pode chamar de 'um doce de pessoa', afável, simpático, generoso. Tenho
certeza de ser bom com meus semelhantes, sacrifico-me pessoalmente pelo alheio
e pelo que eu entendo como bem comum.
Conheço-me a mim mesmo, sou
um 'simples', minhas constantes brincadeiras comprovam. Prefiro a superficialidade
no tratar, os fatos e as pessoas, e me relaciono melhor com gente ignorante e
limitada - nas quais a malícia fica tão aparente que impossibilita a traição, o
componente surpresivo da maldade - do que com aqueles mais cultos. Sem esquecer
o respeito que merecem de mim a sabedoria e o talento.
Conheço-me a mim mesmo, sou
um paladino das liberdades individuais - exercidas com responsabilidade, que
fique claro - e não me calo diante das tentativas de cerceamento, seja em nome
do que for, inclusive quando concordo com os motivos ou finalidades. Con
buena onda, ouço e leio bobagens, cargado de mala leche, falo e
escrevo o contraditório.
Conheço-me a mim mesmo, me
encantaria conhecer o mundo, ver os sítios dos grandes fatos históricos. Queria
ter visto Delphos, comodista, não moveria um pé fora da porteira, se o próprio
Oráculo lá estivesse a minha espera [Dá pra consultar por email?]. Queria ter
conhecido Jerusalém, ansioso, não vagaria 40 anos no deserto, nem 40 dias, nem
14 horas num avião, buscando respostas que contenho. Com que prazer hospedaria
Marcus Tullius Cicero, ir atééé Roma?!
Será por conhecer-me a mim
mesmo? Que não canso de citar - ou deixo de me comparar - ao grande pecuarista
conterrâneo, à quem, passeando por Roma perguntavam:
- Que horas são 'Seu
Fulano'?
Ao que ele, consultando o
cebolão respondia:
- No Herval são seis
horas, o pessoal já tirou o leite e o Beltraninho deve tá encerrando os
cavalos!
Gente como eu não tem jeito,
vai no Louvre e pensa, olhando pra Monalisa - será que lá em casa, já deram
comida pras galinhas!?
Abraços do Ivan Saul
[* O título é uma
referência que fez Hemingway ao Livro do Eclesiastes 1.5: O sol se levanta e
o sol se põe e depressa volta ao lugar de onde se levanta. - significando
que nada é novo sobre a Terra.]