Ruy e meus estimados
Confrades.
Devo, há dias, uma
manifestação correspondente às aulas de 'pecuária para leigos' e a venda de
terneiros. Acontece que, tendo saído pruma consultoria/orientação em
ovinocultura, me vi 'comprado' em bovinos [sabem aqueles negócios impossíveis
de refugar?!] dos quais tive que me
desvencilhar, por absoluta falta de espaço.
Percebo necessário frisar,
sobre os comentários do colega Ruy, que os ativos, imóveis e semoventes,
necessários ao exercício da atividade pecuária, se configuram enormes em
relação à sua característica baixa taxa de retorno. Grandes ou pequenos,
padecemos deste mal, pois aqui as regras de 'economia de escala' não se aplicam
com muita propriedade a não ser em pecuária leiteira, a qual vende uma commodity
que requer processamento e armazenamento mínimos.
Outro problema econômico das
atividades de ciclo longo, está relacionado ao capital de giro. Entradas anuais
de capital, mediante custos e gastos mensais [pois os fornecedores de insumos
pecuários pressupõe o recebimento mensal das faturas emitidas no pinga-pinga
diário].
Economizar dinheiro durante o
ano pra saldar dívidas do cotidiano, é participar ativamente da ciranda
financeira, é enfrentar a inflação/desvalorização buscando investimentos de
curto prazo com remuneração atraente.
Antigamente, quando a lã era
uma commodity valorizada, que 'pagava os custos da estância', existiam
as cooperativas de lãs que operavam as contas em base anual. Seja pela
substituição da lã pelos tecidos sintéticos, desvalorizando-a, seja pelo
negligente ou incompetente gerenciamento financeiro - cooperativas costumavam
ser administradas por seus associados, sem auxílio profissional e capacitado -
tais instituições quebraram após sucessivas chamadas de capital. A Assembléia
Geral é soberana e manipulável e, como em todas as atividades humanas, as
maiorias costumam ser burras [tanto quanto as unanimidades].
Bueno, por tudo isso e mais
alguma coisa, quando o pecuarista descobre as maravilhas do mercado financeiro,
capazes de prover-lhe a subsistência familiar com folga, diante do mesmo
investimento, com menor esforço e envolvimento pessoal. Percebe que o Estado
conspira em desfavor da plebe que, ao contrário do que se pensa, não precisa
comer [não com qualidade, pelo menos]. Se dá conta, que a redução do rebanho
reduz custos e propicia maior lucratividade através de arrendamentos para
lavouras. Dinheiro fácil que retroalimenta a 'ciranda financeira' especulativa,
de onde - salvo por extremo gosto pessoal - não aconselho que saiam aqueles
profissionais liberais citados pelo Ruy em seu artigo.
Enfim, se a terra, bem máximo
à que aspiram todos os mortais [ao menos, os gaúchos que são mais iluminados]
está preservada; se as responsabilidades sociais que nos ensinaram perdem
importância, ao dispensar funcionários e produzir soja para a China [que
retorna, em viagem sem sentido, na forma de feijão preto para misturar ao arroz
dos pobres]; se já não é possível extrair prazer - necessário, componente da equação - na conta custo
benefício da atividade rural produtiva...
Cerveja em São Lourenço do
Sul começa a ser convidativa... Champagne en Ibiza?! Quando é o próximo
voo?
Abraços emigrantes do Ivan
Saul.