segunda-feira, 14 de abril de 2014

PECUÁRIA - UMA AULA DO PECUARISTA E DOUTOR EM VETERINÁRIA IVAN SAUL


Ruy e meus estimados Confrades.

 

Devo, há dias, uma manifestação correspondente às aulas de 'pecuária para leigos' e a venda de terneiros. Acontece que, tendo saído pruma consultoria/orientação em ovinocultura, me vi 'comprado' em bovinos [sabem aqueles negócios impossíveis de refugar?!] dos quais tive que me desvencilhar, por absoluta falta de espaço.

 

Percebo necessário frisar, sobre os comentários do colega Ruy, que os ativos, imóveis e semoventes, necessários ao exercício da atividade pecuária, se configuram enormes em relação à sua característica baixa taxa de retorno. Grandes ou pequenos, padecemos deste mal, pois aqui as regras de 'economia de escala' não se aplicam com muita propriedade a não ser em pecuária leiteira, a qual vende uma commodity que requer processamento e armazenamento mínimos.

 

Outro problema econômico das atividades de ciclo longo, está relacionado ao capital de giro. Entradas anuais de capital, mediante custos e gastos mensais [pois os fornecedores de insumos pecuários pressupõe o recebimento mensal das faturas emitidas no pinga-pinga diário]. 

 

Economizar dinheiro durante o ano pra saldar dívidas do cotidiano, é participar ativamente da ciranda financeira, é enfrentar a inflação/desvalorização buscando investimentos de curto prazo com remuneração atraente.

 

Antigamente, quando a lã era uma commodity valorizada, que 'pagava os custos da estância', existiam as cooperativas de lãs que operavam as contas em base anual. Seja pela substituição da lã pelos tecidos sintéticos, desvalorizando-a, seja pelo negligente ou incompetente gerenciamento financeiro - cooperativas costumavam ser administradas por seus associados, sem auxílio profissional e capacitado - tais instituições quebraram após sucessivas chamadas de capital. A Assembléia Geral é soberana e manipulável e, como em todas as atividades humanas, as maiorias costumam ser burras [tanto quanto as unanimidades].

 

Bueno, por tudo isso e mais alguma coisa, quando o pecuarista descobre as maravilhas do mercado financeiro, capazes de prover-lhe a subsistência familiar com folga, diante do mesmo investimento, com menor esforço e envolvimento pessoal. Percebe que o Estado conspira em desfavor da plebe que, ao contrário do que se pensa, não precisa comer [não com qualidade, pelo menos]. Se dá conta, que a redução do rebanho reduz custos e propicia maior lucratividade através de arrendamentos para lavouras. Dinheiro fácil que retroalimenta a 'ciranda financeira' especulativa, de onde - salvo por extremo gosto pessoal - não aconselho que saiam aqueles profissionais liberais citados pelo Ruy em seu artigo.

 

Enfim, se a terra, bem máximo à que aspiram todos os mortais [ao menos, os gaúchos que são mais iluminados] está preservada; se as responsabilidades sociais que nos ensinaram perdem importância, ao dispensar funcionários e produzir soja para a China [que retorna, em viagem sem sentido, na forma de feijão preto para misturar ao arroz dos pobres]; se já não é possível extrair prazer - necessário, componente da equação - na conta custo benefício da atividade rural produtiva...

 

Cerveja em São Lourenço do Sul começa a ser convidativa... Champagne en Ibiza?! Quando é o próximo voo? 

 

Abraços emigrantes do Ivan Saul.