Me sinto meio constrangido, pois não quero ser como alguns poucos jornalistas que querem posar de doutores em Engenharia, Direito, Medicina e coisa e tal. Só que nunca levantam a bunda do estúdio e não convivem com a praxis.
Mas os mails se avolumam e querem saber de mim:
- ok, tu vendes os terneiros machos, mas e as terneiras?
Explico que a região de Santiago, Itaqui, descendo para Uruguaiana e Quaraí é useira e vezeira em secas, geadas e medra o famigerado mio mio ( ver o que é mio mio no Google que estou sem saco para explicar agora). Mas o animal que não conhece mio mio é problema, pois se comer a erva está morto e sepultado. O melhor, portanto, é ficar com as fêmeas.
Sim, essas eu recrio e vão ser as minhas matrizes.
Se a terneira chegar a novilha e falhar na prenhez e for muito boa, dou-lhe mais uma chance. Mas vaca que falhou eu descarto e, a exemplo dos terneiros, eu mesmo não as " termino". Vendo-as magras mesmo para os invernadores.
Muita coisa está escrita nos livros sobre desmamar cedo ou precocemente. Nem sempre isso funciona na prática, dado o alto preço da ração.
De outro lado o fenômeno de profisionais liberais se apaixonarem pela Pecuária é comum.
Mas a lida é bruta e, comparativamente com a lavoura, o resultado financeiro não é essas coisas, conquanto não se esteja tão sujeito às intempéries.E nem falo no setor de serviços que quase não precisa de estoques e insumos.
Mas o pecuarista está na contramão de muitas coisas: temos estoque ( coisa que ninguém tem mais) e o pior: estoque vivo. Um raio te mata vinte cabeças num zás. O gado que ontem de noite estava gordo, amanhã perde peso por uma simples semana de chuvisqueiro.
Eu tenho certeza que, com a ajuda de minha turma de trabalhadores, tirei leite de pedra.
O problema é a tentação de deixar o leite para lá e cambiar para a champagne sob o sol de Ibiza ...