Franklin Cunha
Médico
“Todo império tem que saber o que fazem os que
estão sob seu domínio. O mais grave no império bélico-informático atual é
que seu domínio não tem limites”.
José Pablo Feinmann in
Filosofia política del poder mediático., Ed. Planeta,
B.Aires
Julian Assange, no seu exílio na embaixada equatoriana em
Londres,escreveu um livro Cypherpunks do qual extraímos alguns trechos.
“ Agora existe uma ocupação militar do ciberespaço.
Quando nos comunicamos com a internet ou através de telefones celulares, agora
estão entrelaçados com a rede mundial, nossas comunicações estão sendo
interceptadas por organizações de espionagem militar.Estamos sob uma lei
marcial no que respeita nossas comunicações. Tanto que a internet que
originalmente estava inserida num espaço civil,se converteu em um espaço
militarizado. Enfim, todos nós temos um soldado embaixo de nossas camas”.
Todo o mundo conversa com todo o mundo, pois no Brasil já
existem mais telefones celulares do que habitantes. As pessoas já colocam o
aparelho debaixo do travesseiro senão não podem dormir. Seu sinal é
imediatamente respondido e tudo o que sai dele é muito importante. Não nos
damos conta que esta importância não está na mensagem, mas no meio. Enfim, na
verdade, o telefone móvel se apossou de seu usuário e seu eventual extravio põe
o proprietário e a família inteira em estado de alerta e até de
pânico.Inicialmente ele era usado para mensagens importantes, de certa
urgência e utilidade, hoje qualquer conversa de absoluta inutilidade pode
demorar longos e caros minutos.
O mais grave é que Jules Assange em recente entrevista
( agora confirmado por Edgar Snowden) denunciou uma nova situação mundial na
qual a “Agência de Segurança Nacional dos EEUU e o Google se associaram na
tarefa de cibersseguridade por razões patrióticas de defesa nacional “.
Com estas notícias, ficamos pensando que o 1984 do Orwell
pode hoje ser lido como uma historinha para crianças diante da abrangência
totalizadora de todos os meios de comunicação.
E se Orwell escreveu sua história pensando no regime
soviético, hoje o Grande Irmão, surpreenderia ao autor de 1984 ao
situá-lo na outrora democracia, sede do capitalismo mundial. E antes de
Orwell, um russo Euguenyi Zamiatin, na sua novela intitulada NÓS de
1922,ao denunciar o regime soviético, profetizava o que aconteceria numa
fantástica distopia baseada no controle e na uniformização do pensamento. Dizia
Zamiatin: “ o que permite este fato é a matematização do real onde as tábuas
dos mandamentos horários sincronizam as atividades produtivas e as lúdicas
permitindo a uniformização das pessoas a tal ponto que um dia se chegará à
abolição do indivíduo”.
E quando se vê e se observa que em todas as salas de
espera se encontram sistematicamente as mesmas revistas e jornais e
quando às 20horas de todas as noites, todas as classes sóciais assistem as
mesmas novelas e as mesmas notícias, “ a fantástica distopia” de Zamiatin e o
Grande Irmão de Orwell já são uma poderosa realidade.
E já se habita plenamente no “ Admirável Mundo Novo” de
Huxley