Já conversamos sobre isto,
creio, passei pelas vidas de muitas pessoas, quase sempre, margeando a solidão.
Vivo ainda hoje, fisicamente retraído do convívio humano variado, elegi não
pagar o custo mental de colecionar muitos amigos próximos, cuidar bem da
multidão é complicado - enquanto o rebanho está em movimento, mal se notam os
pequenos desvios, atalhos, fugas e retornos - humanos são um rebanho parado,
cada um busca uma florzinha, uma sombra, uma maceguinha, um lugar seco, saciar
a sede...
Árdua a missão do amigo
verdadeiro, sendo membro do rebanho, deve ser pastor competente, unificar a
diversidade, atender ao todo onde cada um importa... apesar dos duzentos e
cinquenta e poucos [e não 50] tons de cinza, a vida de cada majada
humana é preta ou branca, existem ovelhas e existem lobos, entre as pontas - o
cinza - é tolerância e tolerância na amizade é poço de boca aberta à espera de
ser envenenado.
Desde a adolescência aprendi,
para poupar sofrimentos, cultivei muito poucos apegos, poucas riquezas
colecionei, tive de meu, somente aquilo que poderia carregar. Diversas vezes me
expulsaram muitas outras desertei - bom entendedor, nunca questionei, nunca
pedi para voltar -
levando comigo a experiência
e o anseio de, quem sabe na próxima, acertar.
Adentro a maturidade, cheio
de novidades, amigos sinceros que nada me pedem e à quem pouco poderei
alcançar, gente que me inspira a aprender coisas novas, me expor um pouco mais,
romper a casca e sair para ver o mundo, o mundo que eles conheceram enquanto eu
acumulava jornadas arrastando pelo caminho o meu rebanho de mesquinharias e
ressentimentos.
Já planejo, damen und
herren, irei à Europa, ver Londres, Paris, Berlin, Praga. Quando ainda não
sei... As certezas que tenho, irei de botas e levarei minhas bombachas, irei no
verão levando só a bagagem de mão e quando me perguntarem as horas responderei:
"aqui não sei, na minha terra são 9 e 45".
Bom domingo meus amigos!
Ivan