Caro amigo, Ruy, permita-me fazer um contraponto ao texto de
Franklin Cunha, o qual me pareceu otimista em demasia, utópico, até fantasioso,
eu diria, não levando em conta inúmeras variáveis. Lembrou-me a crença das
pessoas em geral ao final do século XIX. Devido ao progresso e aos
inquestionáveis avanços científicos da época, muitos acreditavam que o século
XX seria algo como a realização do paraíso na Terra. Diziam que não haveria
mais guerras, nem doenças, nem miséria, nem injustiças, enfim. Bem, não preciso
explicar o que foi o século XX.
A questão do aumento da expectativa de vida, que sem dúvida
é um fato, esbarra em alguns pontos. Primeiro, quando se diz que em 1891 a
média de vida humana era de 33 anos, algo precisa ser explicado. A diferença
daquele tempo para o de hoje é tão grande porque havia muita mortalidade
infantil. As pessoas tinham muitos filhos e vários deles morriam nos primeiros
dias ou primeiros meses de vida. Essas crianças que morriam entravam nas
estimativas de vida geral, o que puxava a expectativa para baixo. Mas se
considerarmos aquelas crianças que passavam dessa idade, dos primeiros meses, a
média de vida aumenta bastante. Então, 33 anos era a média de vida porque
nasciam muitas crianças e muitas morriam. Não era a média esperada de quem
atingia a idade adulta. Se analisarmos sobre esse ângulo, claro que a média de
vida aumentou, mas não foi tanto assim quanto parece.
Um outro ponto é que o autor do texto não menciona que há
inúmeros locais do planeta onde vivem bilhões de pessoas em que a expectativa
de vida continua baixíssima (em algumas regiões ela até diminuiu, como é caso
de alguns países da África subsaariana), onde a miséria impera, onde doenças
como a aids continua dizimando a população, onde os progressos da ciência não
chegam, e pouco estão preocupados em fazer eles chegarem.
Mas o que achei mais absurdo no texto foi a total
desconsideração por parte do autor quanto à pergunta: viveremos mais, mas onde?
Parece-me que os entusiastas da ciência desconsideram que o ser humano é um
animal que necessita de um planeta para sobreviver, que a nossa existência
demanda o consumo dos recursos naturais, e que tais recursos não são infinitos,
muito pelo contrário, já dão sinais claros de seu esgotamento, e que
necessitamos da saúde e equilíbrio dos ecossistemas para nossa qualidade de
vida. Qual é o custo, qual o preço, de nossas existências? De mais de 7 bilhões
de habitantes? Estimativas indicam que a população atual da Terra supera em
mais de 1 terço a capacidade do planeta em sustentá-la, sem falar que cada um
de nós consome muito mais para viver do que o planeta pode oferecer a cada
habitante.
Obtivemos um progresso na expectativa de vida, porém, no meu
entender, este progresso encontra-se hoje ameaçado por um motivo bastante
simples: nossa casa pode desabar sobre nossas cabeças. Enquanto o homem vive
mais, em um nível de consumo absurdo e predatório, sem apresentar sinais reais
de redução, o planeta torna-se cada vez mais doente, e sua vida é
progressivamente aniquilada. Acreditamos realmente que conseguiremos viver mais
em planeta sem vida?
Um abraço, Ruy.