sábado, 5 de outubro de 2013

UMA BELA AVENTURA DO MEU FILHO MAIS VELHO

Armando sempre foi muito chegado a mim, mas guardou segredo de seu plano de fazer uma jornada a pé de Tramandaí a Torres, junto  com seu tio e padrinho João Koerig, que mora em Natal, mas já fez duas vezes os caminhos de Santiago (  na Espanha -  não é do Boqueirão, tontinha!).
João é um cara magrinho, com sangue que vai desde   Anita Garibaldi, passando por alemães e bugres. Já viu, o cara com 62 anos é um papa léguas.
Mas a minha filha Milène me narrou os planos e lá  me fui eu ficar de plantão para o que desse e viesse.
Na primeira perna eles chegaram lampeiros em Xangri La. Ataquei-os na praia a metros de minha casa e os conduzi a força para um almoço - bife acebolado e ovos.
Descansaram um pouco e se foram até perto de Arroio Teixeira. Pernoitaram lá e não me sofri, localizando-os para o reinício da jornada.  Armando com os calcanhares em carne viva e mais torto do que cuiudo com torcicolo.
- quem sabe vocês abortam a caminhada e bãmo pro  churrasco e o vinho, ciciei.
Armando fez que não ouviu.  Fizeram outra perna, no vento e na chuva até Arroio do sal. Não me contive e fui de carro de novo lá.
- bah Armando, por hoje chega.
Não. Foi sua resposta.
 Iniciaram a nova perna em direção a Torres as 3 da tarde.
Seis da tarde  fiquei  cabreiro com a chuva, o frio e o vento.
Nada deles.
Sete horas liguei para o João. Batia um temporal.
-  onde vocês tão?
Ele me disse que tinham chegado até a Praia de Paraíso, mas não estavam  encontrando pousada nem nada.
Me toquei pela estrada do mar e, com receio de não haver placa  indicando a tal praia do Paraíso, entrei em Arroio do Sal e fui indo pela interpraias. A cada 500 metros parava para me certificar se estava no  rumo certo.
- é melhor o senhor voltar para a estrada do mar.
Mas eu, com medo de me perder fui seguindo  por aquela estradinha.. Indescritível, o vento rugia, tudo deserto, buracos, escuridão,  as casinhas só com uma luzinha acesa, nem cachorros perambulavam.
Assim fui por 15 kms a 15 por hora, até que ataquei  um chevette.
- Onde é a praia paraíso?
- É aqui. Quêque o  senhor tá procurando?
- dois caras perdidos.
- devem ser dois que estão sentados  na calçada na frente daquele armazém ali, mas que já fechou.
Eram os dois.
Imobilizei-os com uma chave de braço, empurrei-os para dentro da minha caminhonete.
- agora vamos voltar a Xangri  La, vocês vão tomar um banho, vão comer uma sopa, vão dormir e amanhã  fazem a perna final.
São cinco da tarde.  Faz 20 horas que estão   dormindo.
Acordo  eles?