Lendo sobre diversidade
linguística em teu blog, lembrei-me de uma recente entrevista de radio em que
falávamos sobre a língua alemã presente na região de Santa Cruz. A certa altura
dizia-me o entrevistador que a percebia envolta ainda em muito preconceito e me
perguntava como eu avaliava a situação.
Quantas vezes ouço pessoas se
desculpando pelo alemão que falam quando falam comigo. “Sabe como é, eu falo
esse nosso alemão da colônia”; “Meu alemão é um Hunsdeutscht”; “Falo esse
alemão errado nosso”; “Falo alemão quebrado”; “Tenho vergonha de falar";
"Você fala esse alemão bonito”; “você fala alemão certo” e por aí vai.
Preconceito linguístico é um
dos mais entranhados na sociedade. Acresce-se a isto que o Brasil registra uma
longa história de desconstrução, para não dizer destruição de sua diversidade
linguística. De todas as medidas, neste sentido, a campanha de Nacionalização
do Ensino e da Língua foi a mais funesta. Fez com que os falantes se perdessem
do imensurável valor que a sua língua representa para a diversidade linguística
brasileira, para a riqueza cultural que sua língua suporta, do seu potencial
para o enriquecimento do país.
Esse valor foi desconstruído,
não somente mediante proibição, mas também pela desqualificação de seus
falantes. Quem não conheceu expressões como “língua de grosso”, “língua de
colono grosso”, “alemão batata, come queijo com barata”? “colono grosso, não
sabe português”. Proibindo o idioma, subtraiu-se dos falantes o direito de se
expressarem; desqualificando-a, quebrou-se sua espinha dorsal. A língua alemã,
que antes era ensinada nas escolas, ficou órfã de sua representação escrita,
ficou relegada à reprodução oral em espaços restritos.
A escola, com raras exceções,
até bem pouco tempo e, em grande parte ainda, se mantém de costas para a
riqueza linguística presente no meio em que atua. Desconsidera a semente linguística
plantada pelos pais em casa. Trata a criança como tábua rasa, isto é, o que ela
traz consigo de saber é tratado como inexistente ou imerecido de atenção. Isso
contribui para que a criança aprenda que, seu mundo particular, aquilo que vem
de sua família, não tem valor e assim se mantém as línguas e a cultura de seus
falantes no desprestigio a que foram relegadas.
Enquanto escola e família não
se unirem para juntos se empenharem substancialmente para que os filhos
aprendam a valorizar amorosamente o seu lugar de viver e o que dele
culturalmente faz parte, as crianças construirão um conhecimento desconectado
de seu espaço vital.
Enquanto a escola, a comunidade
reproduzirem apenas os valores globais, os valores transmitidos pela mídia,
enquanto fizerem as crianças se fantasiarem de bruxa de Helloween, de
personagens da novela das oito, de Faustão, será isso que estarão ensinando às
crianças a valorizarem. O espaço coletivo de vida da comunidade e seu mundo
cultural se esvairá de sentidos para esses seres. Posto que não lhes é plantado
no coração benquerer por seu lugar de viver, o que inclui a construção um olhar
amoroso para com o patrimônio coletivo imaterial presente em seu lugar de
viver.