Olá Ruy,
Na vida existe,
sempre, algo que nos deixa ou nos traz saudades...
Essa casa é uma
delas. Meus filhos, tenho certeza, também, tem
esse mesmo
sentimento.
Ali fomos felizes
por muitos anos. Tudo era cuidado e mantido com
o maior carinho,
assim como, tenho certeza, vocês também fizeram.
Os filhos jogavam
futebol ou vôlei no gramado dos fundos.
Porém, a
contragosto de nossa existência, o Patrão Velho conduziu
nossos destinos
para outros lados: os filhos sairam para completar
sua formação e, a
lógica se estabeleceu, seguiram seus caminhos e
estão vivendo
suas vidas fora do aconchego das asas que ficaram
órfãs e,
posteriormente, a Vera se mudou para a Estância Grande lá de cima onde,
tenho certeza, continuou e continua velando por todos nós...
Passei uma parte
da minha existência, na felicidade da família, nesse rancho, onde, até
quando minha idade permitiu, cuidava da grama
(água, inços e
podas), das heras dos muros, das cercas vivas, do pomar,
das árvores
nativas e da horta (ali enfiava os dedos na terra para recarregar as
baterias).
Naquele salão de
festas, a que fizeste referência, passaram muitos ícones de nossa
tradição gaúcha e nativista, quando ali foram feitas muitas triagens
para o Festival da Musica Crioula de Santiago, tais como:
o Yé do Grupo
Minuano, Gildinho dos Monarcas, Pedro Ortaça, João Sampaio, o Lauro
Corrêa Simões, Luiz Cardoso, Ivo Bairros de Brum, Eracy
Rocha, Miguel
Marques, Nenito Sarturi, Antônio Augusto Ferreira, Hilário Retamozo, Sabani
Felipe de Souza, Gujo Teixeira, Maria Luiza Benites,
Arthur Bonilha,
Marcelo Caminha, Elias Resende e tantos outros... Alémde abrigar,
seguidamente, o meu grande amigo Beto Pires, que sempre comentava nos
shows que tinha muita vontade de dormir no piso daquele banheiro azul,
por causa da São Valentino...
Vou te contar uma
que pouca gente sabe: numa dos eventos organizado pelo Ataliba de
Lima Lopes – Noite Missioneira – estava com a casa lotado com o grupo do
Jorge Guedes e faltavam acomodações para duas pessoas.Não tive dúvidas,
levei lá para casa e estendi, no chão da churrasqueira, os colchões de
acampamento/pescaria para eles, que dormiram por lá...
Advinhas quem
eram (só fiquei sabendo no dia seguinte): César Sosa, da harpa e o grande Carlito
Acunha, um dos mestres guitarreiros do outro
lado do Rio
Uruguai.
Agora, na metade
de agosto, estive, juntamente com o Nenito e o Miguel, num festival em
Santa Rosa del Monday, no Paraguai e reencontrei, mais
uma vez, o
Carlito e recordamos da ocasião relatada acima. Aproveitei e disse: “Esse já
dormiu nos meus pelegos e já se tapou com meu pala...”