domingo, 8 de setembro de 2013

PARADOXOS EXISTENCIAIS





As chamas  ainda crepitavam um pouco na lareira aqui do meu refúgio  marítimo quando, pelas 21,30 fui deitar. Uma simples tábua de queijos , tomates e frios  constituira nossa janta, é claro que com duas taças de vinho.
Acordo plenamente  refeito e bem às 5 da manhã e me levanto ser fazer ruído. Desço ao térreo  e recolho taças e pratinhos. Abro com cuidado as janelas e um beijo cálido me envolve todo o corpo e toda a alma. Uma lufada de ar quente, quente como os ares de Madrid em julho.Meu corpo e meu sangue se carregam de uma energia de milhões de anos.
Nuvens carregadas, plúmbeas, dominam o céu.
Caminho os 20 metros que me separam da praia e entro num estado de euforia plena, agradecido a Adonai por tudo que me propiciou. Nenhuma pessoa, ninguém transitando.
Que paradoxo, concluo, quantos paradoxos: na verdade , para mim, não sei para os outros, para mim praia só é boa FORA DE ESTAÇÃO. Não é que eu não goste de gente se amontoando, é que  detesto que me obriguem a ouvir sons e barunlhos que não quero ouvir.
Já disse que os dois lugares mais quietos de minhas casas são esta da praia e o apartamento do 10 andar da duque.
E  fazenda? é linda, mas depois que  algo fica grande, se foi teu tempo para andar placidamente a cavalo, a pescar. Cedo roncam os tratores, cedo se movimentam os gados e ovelhas, urge o pagamento das infindáveis contas, inadiáveis os consertos de máquinas e aquisições de insumos,  impende a resolução de problemas. Mas é assim mesmo, é negócio e negócio não tem nada com lazer.
E a cidade pequena?
Acho muito lindo de cruzada. Fica uns três meses e serás engolido por quezilhas e querelas paroquiais que, dada a circunscrição restrita do lugar e o " Volksgeist", te imergem naquele microcosmos que, quando te dás por conta, estás preocupado  com o bigode pintado do vizinho ou te acordas, no meio da noite, com o som alto de uma Brasília tunada.
Agora entendo porque Jesus passava semanas e semanas no deserto...
Jesus, hein..?
( dedico esta crônica às humildes flores que medram nas dunas da praia, sem que ninguém delas cuide e a elas dê água)