Parece que o ano era
l967. No sábado haveria o jogo Flamengo e Inter no Maracanã. Eu morava na casa
da UESC ali na Tomás Flores, em P. Alegre. Li que haveria uma excursão pelo avião
da Sadia, companhia aérea já extinta. Eram 10 parcelas. O dono do curso
supletivo onde eu lecionava para me sustentar serviu de meu avalista. Nunca
tinha andado de avião.Fui sentadinho ao lado do falecido Aldo Dias Rosa, na
época dirigente do clube. Descemos no
Galeão e uma Kombi nos levou ao Hotel Marambaia em Copacabana. De tarde outra
Kombi levou nossa turma ao Maracanã. Os transeuntes, ao nos verem com a
vermelhinha do Inter diziam:
- ué, torcedores do
América?
Nas arquibancadas uma
charanga do Flamengo tocava e fazia barulho. Sentamos perto e fomos muito bem tratados. Eram outros
tempos.
O resultado foi de 1x0
para o Flamengo, gol de Fio ( Fio Maravilha).
O nosso avião só
sairia 2ª. de manhã.
No domingo de manhã
dei uma chegada na praia, parece que era o posto 4, bem na frente do
Hotel. Em redor de uma rede de vôlei
havia várias famílias, homens, mulheres, suas filhas e filhos e alguns já
estavam jogando.
Incrível, mas o Rio
naquela época era muito, mas muito diferente.
Um jovem senhor, que
estava com sua esposa e uma filha adolescente me disse:
- good morning! (
calculava que, pela brancura, eu fosse um estrangeiro).
Agradeci e disse que
era gaúcho.
- quando esse jogo
terminar, quer jogar de dupla comigo?, replicou ele.
Acedi com alegria.
- sente-se aqui com a
gente, disse a jovem senhora, aceita um suco de laranja? Olha, essa aqui é
nossa filha, Soninha, já tem 16 anos. E não tem namorado.
Dali seguiu-se um
idílio dos maiores que vivi nesse mundo de Deus.
Eu me portava retraído, mas a guria era cheia de dedos na acepção literal
da expressão. Em seguida, me convidou para dar uma caminhada até a Praia do
Leme pelo calçadão.No caminho ela foi cantarolando “ Ai Dindi” e eu, muito
sacana “ se você quer ser minha namorada” . Era o tempo da Bossa Nova.( vá no
Google, vale a pena) De lá já voltamos de mãozinhas.
- Mamãe, papai,
eschtamus namorandu! anunciou ela ao chegarmos à rede.
Foi aí que comecei a
conhecer o verdadeiro Brasil. Se até então eu dava beijos na boca algo
protocolares, a guria vasculhava com sua língua inclusive minha traquéia.
Na hora do meio dia a
mãe de Sônia abriu um farnel com sanduiches e todo mundo tomou cerveja.A guria
bebia mais moderadamente.
Por volta de 4 da
tarde o sol começou a se por atrás dos edifícios e morros.
- Amohhh! Amohhzinho,
não quer tomar um café no nosso
apahhtamento?
Declinei muito
prudentemente e atochei que meus pais me esperavam decerto já aflitos no hotel.
Despedimo-nos ali no
calçadão, na frente do Hotel, a Sonia me beijando e me abraçando de corpo inteiro, pendurada
no meu pescoço e seus pais com lágrimas nos olhos, achando muito lindo tudo
aquilo.
Trocamos algumas cartas durante uns meses.
Aos 18 , 19 anos não
há como ser muito constante à distância.