Relato
de uma vereadora de Porto Alegre
Gostaria
de passar aos amigos, a visão que estou tendo como vereadora e cidadã
porto-alegrense, do que está acontecendo desde a quarta-feira na nossa Câmara
de Vereadores.
Naquele
dia, pelas 17h, durante a sessão plenária, uma centena de manifestantes organizados
ocuparam as galerias e depois invadiram o plenário com gritos de guerra.
Na
primeira abordagem, os ocupantes pediram para os vereadores sentarem no chão
para iniciar o diálogo! Fiquei em pé.
Entre
surpresa e chocada, assisti as reações do bando festejando a invasão do
parlamento municipal, subindo nas mesas dos vereadores e da bancada da
presidência.
Após
essa primeira e única tentativa de conversa, que já demonstrou radicalismo, fui
com os vereadores para a sala da presidência onde ficamos reunidos por mais de
três horas.
Lá
pelas tantas, convicta de que aquele debate era inócuo, me levantei
e fui ao plenário, e confesso a vocês que nem sei o porque fui,
pois não tinha nada a fazer lá, mas era como se algo dentro de mim me fizesse
ir.
E
não deu outra, meu sexto sentido estava certo: foi o tempo de entrar e ver
os invasores hostilizando e expulsando repórteres e cinegrafistas da RBS,
já mostrando ao que vieram. Olhei para a jovem repórter acuada por um bando de
trogloditas e seus colegas sendo empurrados plenário afora e me coloquei na
frente deles.
Com
os braços abertos de forma que ficasse claro que para bater neles teriam que
bater em mim primeiro, coloquei um fim naquela possível agressão física. Em
seguida, abraçada neles, virei as costas e levei-os para o meu gabinete
onde permaneceram em segurança. Aquilo me tocou no fundo da
alma. Não aceito essas tentativas de impedir o livre exercício do
trabalho da imprensa.
Eram
20h30, quando tentei sair da Câmara e não consegui. Todos os
portões estavam obstruídos pelos manifestantes que impediam a entrada e saída
de qualquer pessoa. Liguei para o Chefe de Policia do RS e informei que
precisava ir para casa por conta de um familiar que tinha feito cirurgia e
ficaria sob os meus cuidados.
Ele
não sabia da invasão no parlamento municipal, então, me pediu alguns minutos
para agir. Ao desligar o celular, entrei na sala da presidência e disse o mesmo
para os vereadores que continuavam em reunião.
Em
vinte minutos, o vereador Kopittke, mais toda a bancada do PT e a vereadora
Fernanda Melchionna, do PSOL, acompanhados de uma moça chamada Vick, que se
apresentou para mim como, pasmem, coordenadora de segurança da organização
manifestante, me conduziram segura até a saída. Aliás, a tal moça, muito
gentil falou: “Vereadora, todos do movimento concordam que a senhora saia para
atender seu familiar, então vou lhe acompanhar até o portão.”
Mas,
o quadro da loucura continuou na sexta-feira pela manhã, quando os
funcionários tiveram que se identificar no portão para entrar em seu local de
trabalho!
Consegui
cumprir os compromissos do meu gabinete e fui convocada para outra reunião com
todos os vereadores para receber e analisar o documento entregue pelo
grupo com reivindicações e exigências.
Na
ausência do líder da Bancada do PP, vereador João Carlos Nedel, por motivo de
viagem, fui designada para a liderança até 25 de julho, por isso tomei a frente
do posicionamento do meu partido ao ocorrido, com acordo dos colegas
vereadores, Nedel e Villela, de não sentar para negociar com essa turma, que
cerceou a liberdade de imprensa, o ir e vir dos funcionários da Câmara e
desrespeitou os que foram eleitos com legitimidade para representar a
população.
Que
movimento democrático é esse? Não é democrático, é terrorista.
Não
aceitamos que a Câmara de Porto Alegre fique refém de um
bando que está impondo à presidência da casa legislativa da capital e aos
vereadores, suas formas de conduta e ação política confusas e duvidosas
identificadas sob o nome de Bloco de Lutas.
Ainda
não havia sido terminada a redação da resposta dos vereadores às “exigências”,
quando atos de vandalismo e violência começaram a se espalhar pela Câmara.
Portas
foram forçadas, as placas de localização dos carros dos vereadores no estacionamento
foram pichadas com dizeres depreciativos, foi encontrada uma bomba artesanal
debaixo do veículo de um vereador e tudo culminou com uma agressão com
empurrões e chutes ao presidente e a um dos fotógrafos da casa e discussão
acalorada com o advogado do Bloco.
O
presidente, Dr. Thiago, interrompeu as negociações, informou ao governador
Tarso Genro da necessidade da presença da Brigada Militar, que apareceu,
mas logo recebeu determinação do alto comando para que deixasse o local.
A
Brigada Militar tem um comandante: o governador, que é do PT.
Eu
pergunto, em que sociedade estamos vivendo? Onde a dita liberdade de uns
determina a dos outros? E onde autoridades parecem que já não sabem como devem
agir?
Na
sequência disso, a OAB se fez presente exercendo a mediação entre as partes e
trabalhando para que o entendimento jurídico mostre a inviabilidade de muitas
das reivindicações, que não são competência do legislativo e sim do executivo
municipal, do estadual e do Ministério Público e por isso serão encaminhadas
pela Câmara a esses órgãos.
No
sábado, terceiro dia de ocupação, o presidente da Câmara Municipal entrou com
uma ação de reintegração de posse, e felizmente e da maneira como tinha de ser,
a decisão do juiz plantonista Honório
Gonçalves da Silva Neto, do Foro Central da capital, determinou que
os manifestantes baderneiros deixem a Câmara Municipal nesta segunda-feira, 15
de julho, tendo por base o artigo 172 do Código Civil, que determina que as
reintegrações ocorram em dias úteis, das 6h às 20h.
Como vereadora do município de Porto Alegre, assim
espero.