segunda-feira, 24 de junho de 2013
PASSEATAS. A PRIMEIRA VEZ A GENTE NUNCA ESQUECE
Era 1965. Eu estava no primeiro ano de Direito da UFRGS ( naquele tempo não era essa picaretagem de hoje em que o aluno faz " cadeiras" e nunca se forma uma " turma". Ninguém se conhece, todo mundo tem pressa).
Nós não. Nós conspirávamos. Tínhamos tempo para isso entre uma brahma e outra no CAAR ( Centro Acadêmico André da Rocha). Os "Diretórios" acadêmicos foram nomenclatura da Ditadura. Mas isso já está prescrito.
Um dia me disseram: vamos lá pra frente da Reitoria e fechar o trânsito: a Filosofia , a Arquitetura e a Medicina estão apoiando.
Lá fui eu. Já tinha bastante gente. Dali a pouco chegou o Choque e fez uma barreira ali bem na esquina com Osvaldo Aranha.
Um grandão pegou o megafone e disse:
- vocês tem cinco minutos para se dispersar. depois vamos baixar o cacetete.
Uma coleguinha foi pra frente dos caras do Choque e disse:
- vocês são operários também e não vão bater nos estudantes.
Foi dada a sugestão de um do movimento:
- sentem-se no chão que eles não vão nos bater.
Sentei-me no chão.
Quando foi dada a ordem de atacar ao Choque, a primeira que pegaram foi a guria de que falei, que se urinou com sangue.
Eu levei uma cacetada no ombro e outra no joelho.
Ganindo de dor caí para trás e vi, lá no sétimo andar, lá no terraço da Reitoria, toda a Diretoria das entidades estudantis.
Lá em cima, longe do pau, igual a reis que não pegavam na lança...
Rolei para o lado e saí pinoteando e gritando de dor, me embretei na Redenção e depois fui cautelosamente até a Tomás Flores onde morava.
Aquelas duas cacetadas me fizeram ver as coisas mais claramente....
Nunca deixei de votar na esquerda.
Mas ando cético.
deve ser a idade....