quarta-feira, 19 de junho de 2013
Opinião de um adotado, POR JOÃO LEMES, JORNALISTA, SANTIAGO RS
Minha família e eu ainda no colo da minha mãe, pouco antes de ser doado. |
Todos sabem minha história, que perdi o pai cedo e que fui “dado” a uma família. Ele era meu tio, nem por isso deixou de ser estranho naquela minha idade. Não renego meu destino, aceitei tudo o que veio, mas mentirei se disser que adorei ser arrancado da mãe e do convívio com meus sete irmãos. Dizem que mãe é quem cria... é mesmo, mas a criança deve ser adotada novinha e, mais tarde, quando entender, deve saber de tudo. Aí ela vai amar as duas mães, talvez até mais a adotiva. No meu caso foi diferente; fui embora com 4 anos e me lembro que tudo o que mais queria era sentir a presença dela de novo, ouvir sua voz, nem que fosse pra brigar comigo.
Uma vez eu brincava num potreiro perto da casa de minha tia-mãe e vi um carro chegar na porteira. Dele desceu uma mulher. Meu coração saltou ao ver que era minha mãe. Subi um baita trecho correndo e falando sozinho: a mãe, a mãe, a mãe... Imaginem a tristeza, a desilusão de uma criança de 5 anos ao ver que a mulher apenas se parecia com a sua mãe... É por isso que vou contra ao dito de que a criança ganha na loteria ao ser adotada por um rico. Só ganha se for adotada cedo ou se aceitar a nova família com todo o amor. Caso contrário, será melhor para ela ter passado até fome, mas viver sempre ao lado da pessoa que lhe trouxe ao mundo.