Recebo do meu amigo de infância Guido Koehler um exemplar do
livro comemorativo aos 50 anos da AABB de Santa Cruz.
Inicio por dizer que na Santa Cruz de “ illo tempore” dois
empregos estavam entre os mais prestigiados: “ bei den amarikaner von Souza
Cruz arbeiten” ( trabalhar para os americanos da Souza Cruz) e ser funcionário
do Banco do Brasil. Eu mesmo em 1964 me submeti ao concurso, fui aprovado com
boa classificação, mas não quis assumir pois fora aprovado no vestibular em
Direito na UFRGS o que, na época, me pareceu mais interessante opção.
Mas vários amigos meus seguiram a carreira com muito
sucesso. Olhando as fotos do livro me vêm à mente alguns episódios
interessantes. Guido era e é um musicista autodidata e muito talentoso e eu era
aluno de violino da sra. Amália Eidt. Contava a meu favor ter sangue da família
Gessinger, de bons músicos, desde o meu bisavô, passando pelo avô e meu pai,
além das tias, todas excelentes nos seus instrumentos. Sem falar no Humberto
Gessinger ( Engenheiros do Hawaii), filho do prof. Humberto, meu tio.
Pois na época do Dia de Santos Reis, Guido , eu e mais
alguns saíamos a tocar pelas casas e recolhíamos alguns trocos em
dinheiro. Nossa! Como rendiam aquelas serenatas, principalmente quando
tocávamos nas casas dos “ obende zehntausende” ( dos mais afortunados).
Certa noite, após termos passado a noite tocando, já
rescendendo a “ vermouth”, fomos na casa da então namorada do Guido, a Gísela.
À janela onde ela dormia com a irmã, começamos a tocar desafinadamente, dada a
influência etílica. Ouvimos uma das gurias falando para a outra:
- tu tá ouvindo esse barulho aí fora?
- to, mas vamos dormir que isso só pode ser uns bêbados
porque to sentindo o cheiro da cachaça aqui de dentro...
Mas eu saí muito cedo de Santa Cruz, aos 17 anos, e
desde então só voltei para visitar meus familiares esporadicamente. Fiz
minha vida toda fora e acho que nunca mais morarei em Santa Cruz.
Mas não passa um só dia em que não agradeça ao Senhor pela
graça de ter nascido e educado em Santa Cruz. Me perdoem os mais jovens: mas
era um “ provalescimento” a gente se submeter a um teste ou concurso ou
entrevista, tamanha era a sólida base cultural que se detinha e que nos
diferenciava dos demais. Era só dizer que se era de Santa Cruz que tudo
se abria. Além disso, a severa educação a que nossos pais nos submetiam
tornavam-nos a todos competidores excelentes no mercado de trabalho.
Uma coisa a mais para encerrar. Quando ingressei na
Faculdade de Direito da UFRGS fui muito bem acolhido por ter bons
conhecimentos da língua alemã já que – coisa com que jamais imaginara – lá era
um ninho de cultuação da escola alemã da ciência jurídica.
Agora voltando à AABB. Quantas cidades têm uma sede como a
de Santa Cruz? E o que é isso senão a própria cara de nossa terra natal e da
tenacidade da gente que aí nasceu?