quinta-feira, 25 de outubro de 2012

PIROTECNIA - UM BELO COMENTÁRIO DE ROGOWSKI


 

Amigo Ruy,

como bem sabes, eu não tenho nenhum envolvimento com partidos políticos, não sou filiado a nenhum deles, embora possa ter simpatia por alguma corrente do pensamento político, o que não é o caso em relação ao PT, é público e notório que nunca tive simpatia por essa agremiação por inúmeras razões que não cabe aqui comentar neste momento, o que também não quer dizer que eu não respeite várias pessoas que integram referido partido, de algumas delas até sou amigo, são pessoas honradas e preocupadas com o bem comum.

Portanto, minhas ponderações aqui nada tem a ver com questões ideológicas, me aterei unicamente ao campo do direito.

Aprendi desde muito cedo que mais vale cem ou mil culpados soltos do que um único inocente preso.

O ideal seria nenhum culpado solto e nenhum inocente preso, mas os antigos sábios da humanidade sabim da falibilidade humana e por isso cuidarem de criar sistemas, salvaguardas, garantias, ou numa linguagem mais moderna, protocolos a serem observados.

Em outras palavras, falo do respeito aos princípios milenares do direito já consagrados desde os antigos impérios, da Pérsia, da Alexandria, Romano e Bizantino.

São milênios de valores jurídicos da civilização e no afã de atender ao clamor popular, se despreza tudo isso.

Por óbvio que enquanto cidadãos, tu e eu e quase todo o povo brasileiro gostaríamos de ver essa “gang” do mensalão banidas do Brasil, mas enquanto operadores do direito, com a responsabilidade que temos, pelo juramento que fizemos, não podemos transigir com os princípios, eles são o esqueleto, a estrutura, “as vigas do edifício” que sustentam o prédio.

Se começarmos a mexer numa coluna hoje, numa viga amanhã, daqui um tempo a estrutura estará de tal modo comprometida e viciada, que o “prédio” se tornará inseguro e poderá desabar a qualquer momento. E é isso que as pessoas não compreendem, a despeito de linchamento de alguns corruptos estamos criando precedentes perigosos que lá na frente poderão se reverter contra qualquer cidadão.

O povo tem memória fraca, não se lembram dos horrores que este tipo de sensacionalismo causa, até hoje se estuda nas faculdades de direito e de jornalismo o "Caso Escola Base", de 1994, um acontecimento que teve grande repercussão na mídia e provocou o linchamento social dos proprietários da escola acusados de pedofilia, de molestarem sexualmente crianças, a escola foi incendiada pela plebe furiosa, posteriormente através de laudos periciais se comprovou a inocência dessas pessoas, porém, suas vidas já estavam destruídas, perderam o patrimônio, a dignidade, a saúde, perderam tudo pelo que trabalharam a vida toda.

Eu já disse tantas vezes que vivemos um período de transição entre o final de uma era o início de um novo ciclo civilizatório, esse período de transição é caótico e dá margem a que coisas bizarras aconteçam, como já aconteceu antes, na época da política romana do pão e circo.

Hoje o “pão” são as “bolsas esmolas”, as “carrocinhas” com motor de mil cilindradas e quase sem freios (não têm ABS), geladeiras e fogões com IPI zero e ICMS exorbitante, e o povo é iludido da mesma forma que os colonizadores iludiram os índios com “presentes” (espelhos e quinquilharias) e assim o povo crê que é feliz.

Já o “circo” está principalmente na TV, “Big brother”, “A Fazenda”, as novelas em que todo mundo come todo mundo, e, como a cereja encima do bolo (fecal), o arremedo de julgamento do mensalão, um espetáculo pirotécnico e sensacionalista, na TV Justiça.