Amigo Ruy,
como bem sabes, eu não tenho nenhum envolvimento com
partidos políticos, não sou filiado a nenhum deles, embora possa ter simpatia
por alguma corrente do pensamento político, o que não é o caso em relação ao
PT, é público e notório que nunca tive simpatia por essa agremiação por
inúmeras razões que não cabe aqui comentar neste momento, o que também não quer
dizer que eu não respeite várias pessoas que integram referido partido, de
algumas delas até sou amigo, são pessoas honradas e preocupadas com o bem comum.
Portanto, minhas ponderações aqui nada tem a ver com
questões ideológicas, me aterei unicamente ao campo do direito.
Aprendi desde muito cedo que mais vale cem ou mil
culpados soltos do que um único inocente preso.
O ideal seria nenhum culpado solto e nenhum inocente
preso, mas os antigos sábios da humanidade sabim da falibilidade humana e por
isso cuidarem de criar sistemas, salvaguardas, garantias, ou numa linguagem
mais moderna, protocolos a serem observados.
Em outras palavras, falo do respeito aos princípios
milenares do direito já consagrados desde os antigos impérios, da Pérsia, da
Alexandria, Romano e Bizantino.
São milênios de valores jurídicos da civilização e no afã
de atender ao clamor popular, se despreza tudo isso.
Por óbvio que enquanto cidadãos, tu e eu e quase todo o
povo brasileiro gostaríamos de ver essa “gang” do mensalão banidas do Brasil,
mas enquanto operadores do direito, com a responsabilidade que temos, pelo
juramento que fizemos, não podemos transigir com os princípios, eles são o
esqueleto, a estrutura, “as vigas do edifício” que sustentam o prédio.
Se começarmos a mexer numa coluna hoje, numa viga amanhã,
daqui um tempo a estrutura estará de tal modo
comprometida e viciada, que o “prédio” se tornará inseguro e poderá
desabar a qualquer momento. E é isso que as pessoas não compreendem, a despeito
de linchamento de alguns corruptos estamos criando precedentes perigosos que lá
na frente poderão se reverter contra qualquer cidadão.
O povo tem memória fraca, não se lembram dos horrores que
este tipo de sensacionalismo causa, até hoje se estuda nas faculdades de
direito e de jornalismo o "Caso Escola Base", de 1994, um
acontecimento que teve grande repercussão na mídia e provocou o linchamento
social dos proprietários da escola acusados de pedofilia, de molestarem
sexualmente crianças, a escola foi incendiada pela plebe furiosa,
posteriormente através de laudos periciais se comprovou a inocência dessas
pessoas, porém, suas vidas já estavam destruídas, perderam o patrimônio, a
dignidade, a saúde, perderam tudo pelo que
trabalharam a vida toda.
Eu já disse tantas vezes que vivemos um período de
transição entre o final de uma era o início de um novo ciclo civilizatório,
esse período de transição é caótico e dá margem a que coisas bizarras aconteçam, como já aconteceu antes, na época da
política romana do pão e circo.
Hoje o “pão” são as “bolsas esmolas”, as “carrocinhas”
com motor de mil cilindradas e quase sem freios (não têm ABS), geladeiras e
fogões com IPI zero e ICMS exorbitante, e o povo é iludido da mesma forma que
os colonizadores iludiram os índios com “presentes” (espelhos e quinquilharias)
e assim o povo crê que é feliz.
Já o “circo” está principalmente na TV, “Big brother”, “A
Fazenda”, as novelas em que todo mundo come todo mundo, e, como a cereja encima
do bolo (fecal), o arremedo de julgamento do mensalão, um espetáculo
pirotécnico e sensacionalista, na TV Justiça.