Ainda pequeno, o ministro do Superior
Tribunal de Justiça (STJ) Teori Albino Zavascki saiu da catarinense Faxinal dos
Guedes e foi sozinho para Chapecó (SC) estudar em colégio interno só para
meninos, onde fundou seu próprio time de futebol, "Os Explosivos". Em
resposta, adversários criaram "Os Extintores" e o primeiro jogo foi
tão inflamado que a diretora mandou acabar com as duas agremiações. O camisa 11
dos Explosivos, se passar pela sabatina do Senado, assumirá agora a 11.ª
posição no Supremo Tribunal Federal, onde, segundo amigos, atuará muito mais
como extintor. Ao saber dessa passagem da infância de Teori, o ministro Castro
Meira, presidente da 1.ª Seção do STJ, riu, surpreso: "Que paradoxal!
Explosivo é tudo o que o Teori não é. Você nunca vai vê-lo batendo boca no
plenário ou tentando impor sua opinião, ele é reservado e sereno".
A descrição de Meira sobre o estilo
do colega bate com o perfil que a presidente Dilma Rousseff buscava para
substituir o ex-ministro Cezar Peluso. Segundo um interlocutor direto da
Presidência, a procura era por alguém "muito experiente, muito preparado
tecnicamente, que fosse discreto e educado, fora do tribunal e nos julgamentos.
Nada de espetáculo".
O ministro do STJ Napoleão Nunes Maia
Filho já dá uma pista para quem quiser saber como ele vota: "Ele é
absolutamente coerente, por isso previsível em suas posições. Costuma
reproduzir suas decisões". Castro Meira acrescenta: "Ele se recusa a
dar uma interpretação mais aberta da Constituição, como eu faço às vezes. Segue
estritamente o que está escrito na lei". Advogados que frequentam seus
julgamentos avaliam que ele costuma decidir mais a favor do Fisco e que é linha
dura. Na esfera política, absolveu o ex-prefeito de Ribeirão Preto (SP) Antonio
Palocci da acusação de improbidade administrativa. Mas condenou, pelo mesmo
crime, o ex-prefeito de Joinville Luiz Henrique da Silveira, que hoje, aliás, é
senador e participa da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), que concluirá
a entrevista e aprovação de seu nome depois das eleições.
Sobre CPI, Teori já decidiu como
relator que a instauração desse tipo de investigação não deveria depender de
aprovação prévia do plenário da Câmara Municipal, pois isso retiraria da
minoria parlamentar esta prerrogativa constitucional.
Em seu gabinete decorado com bandeira
do Grêmio, o descendente de italiano e polonês que não tem ideia do significado
de seu nome (pronuncia-se Teorí) costuma despachar ouvindo Mozart, Beethoven ou
Bach. De janeiro até agosto deste ano, ele recebeu 7.843 novos processos e
julgou 10.882. No ano passado, chegaram à sua mesa 8.773 e foram sentenciados
8.036. Preocupado em evitar o clima de "já ganhei" a vaga no Supremo,
ele continua frequentando as sessões e pedindo vista, como na última sessão, na
quarta-feira.
Livros e seriados. Teori frequenta
semanalmente a ponte aérea Brasília-Porto Alegre. Passa a semana em seu
apartamento funcional tomado por livros na Asa Sul da capital federal. Lá, ele
gosta de praticar caminhadas matinais pela vizinhança - antes sozinho, mas
desde que foi indicado ao Supremo é acompanhado por seguranças. Não é dado a
eventos sociais, então ocupa o tempo livre vendo sua série predileta, Two and a
Half Men. Opta pelas reprises antigas que ainda passam na TV, ou assiste às
temporadas que tem em DVD, porque ele achou sem graça a substituição de Charlie
Sheen por Ashton Kutcher. Para acompanhar o ídolo americano politicamente
incorreto, virou fã da nova série de Sheen, e anda se divertindo com Tratamento
de Choque. Quando está de folga, gosta de viajar para o exterior ou acampar na
beira do rio, dormindo em barraca.
Na capital do Rio Grande do Sul, a
vida é mais agitada. De sexta-feira a domingo ele vai para o apartamento que
divide com a mulher, a juíza federal Maria Helena Marques de Castro Zavascki.
Companheira desde 2004, ela deu um breve intervalo nas sessões de quimioterapia
e fez questão de estar ao lado do marido durante a sabatina no Congresso.
Criado em família católica, ele mantém em casa uma Bíblia, que divide espaço
com um exemplar do Evangelho Segundo o Espiritismo, religião de seus filhos.
Mas não é de frequentar igreja. É no Sul onde ele sempre se encontra com seus
três herdeiros: Alexandre, médico e alpinista; Francisco, advogado e alpinista,
e Liana, advogada. Os dois que seguem a carreira do pai se defendem quando
alguém pergunta se ter um pai ministro pode influenciar o resultado de uma
ação. "Meu pai jamais poderia julgar um caso nosso, nem se quisesse.
Nossos processos não começam nem no STJ, nem no STF", responde Francisco,
de 32 anos.
As netas gêmeas, Mariana e Bruna,
adoram quando o avô prepara churrasco, sua especialidade, sempre ao som de
música típica gaúcha. Se algum comensal de seus espetos quer deixar a festa
cedo, ele costuma brincar: "Já vai embora, secador?", alusão ao
torcedor que vai ao estádio só para "secar" (torcer contra) o time
adversário e sai de fininho ao ver que a intenção foi alcançada.
Tricolor. A metáfora futebolística é
em nome de sua paixão, o Grêmio. Ele é membro conselheiro do clube, frequenta
as reuniões e está feliz da vida com o comando de Luxemburgo. Ele e o
presidente do clube, Paulo Odone, são amigos de longa data, quando ainda era
estudante da Universidade Federal de Porto Alegre,
Teori começou a carreira como
auxiliar no escritório de Odone. A relação deu certo e chegaram a ser sócios.
Hoje, a amizade gira em torno da bola, quando os dois se juntam para torcer e
discutir o futuro do time. O sócio ilustre já migrou sua cadeira cativa e a de
seus filhos para a futura Arena Grêmio. Uma das raras ocasiões que o fazem
chorar é quando o tricolor gaúcho conquista algum título importante. Aí, brotam
lágrimas contidas.
(O Estado de São Paulo - 01.10.2012)
DÉBORA BERGAMASCO / BRASÍLIA - O Estado de
S.Paulo
( enviado por Luiz Gaspar Beck da Silva)