quarta-feira, 5 de setembro de 2012

ACHO QUE MEU CASO É GRAVE, GRAVÍSSIMO

Senta aí e me escuta.
Devo estar com problemas, só que não tinha me dado conta.
Me escuta.
Hoje eu estava sentado esperando minha vez para ouvir duas testemunhas de um processo em que atuo. Perto de mim jovens advogados e advogadas discutiam animadamente o enredo de uma novela da Globo. E eu não entendendo patavina.  Quase não vejo TV, muito menos novelas.
Retirei-me para um banco mais afastado. Três pessoas, que deveriam ser testemunhas de algum processo, narravam, com minúcias, seus dissabores sexuais nas baladas. Isso em altos brados.
Afastei-me para outro canto. Estavam cinco jovens e dois homens maduros, todos, sim todos, falando ao mesmo tempo, uns com os outros e um com todos. Não pediam licença para interromper o  que o outro estava falando. Pior: um babaca tentava contar uma piada enquanto seu interlocutor falava ao celular, também em altos brados. E dê-lhe termos chulos a toda hora, incluindo os chatíssimos
- com certeza
- então
- olha só
Pensei: só eu, em todo o mundo, não vejo novela; só eu, em todo o universo, peço licença para apartear alguém; só eu guardo em segredo meus segredos.
Sou um anormal.
Deveria me tratar, sem dúvida.
Mas aí me ocorreu aquele refrão
" soy feliz, soy un hombre feliz y por eso pido que me perdonen".
Ou como diz aquela música... " por isso é  melhor, deixar como está".
Às vezes me soa como maldição  ter nascido em família de fundamento.
Volto ao meu carro, ligo nos 1080 AM da Rádio da Universidade e ouço um concerto de Dvorak,
Puxa, a 1080 continua no ar... é porque tem ouvintes.
Abro as janelas do carro, deixo o vento entrar, respiro fundo, entro  em euforia.
Nem tudo está perdido.