terça-feira, 24 de julho de 2012

TEMPOS IDOS - ESPETACULAR COMENTÁRIO DE ELVIO LOUREIRO


Caro Ruy ,



Lendo a sua coluna na Gazeta do Sul do dia de hoje, fez-me viajar pelas doces lembranças da minha infância.

Tenho hoje 57 anos de idade, e morávamos na casa da minha avó, na Rua Senador Pinheiro Machado, um pouco abaixo da Rua Thomas Flores; nestas redondezas brincávamos da carro de lomba, patinete,e jogávamos futebol de pés descalços nos campinhos cravejados de rosetas .

Mas, o que despertou-me a memória foi o famoso "caveira " ; subíamos o arroio logo na entrada da Rua Henrique Schuster , após a Rua do Moinho , e pescávamos lambari, carute , juaninha ,cascudo e o famoso " jundiá mole " , espécie que escondia-se entre as pedras, que utilizando-se da estratégia de sujar a água um pouco acima os fisgávamos com esperas ( pedaço de linha , rolha e anzól ) . Voltávamos para casa com a fieira cheia (espécie de cipó onde colocávamos os peixes ).

Assim percorríamos pelo leito do arroio , fazíamos pequenas represas para tomar banho (chamávamos de pocinhos ) ; mas o local mais desejado era a represa do pequeno balneário da família Goldbecker , que era conhecido como "Caveira " ; na verdade eu nunca fui atrás para saber a origem do nome .

Haviam nesta chacrinha , pequenos chalés , que serviam como quartos onde os familiares se hospedavam . 

Para se tomar banho tinha duas alternativas, pedir para uma senhora velhinha dona do local e que veraneava todos os verões que quase nunca autorizava pela responsabilidade e riscos de acidentes e afogamentos, ou banhar-se atirando-se na represa sem autorização;não precisa nem mencionar qual era alternativa predileta da gurizada .

Eu lembro-me que nossa curiosidade e criatividade eram muito fortes, ao ponto de escalarmos os morros após o "caveira", para descobrir a nascente daquele arroio, e descobrimos , chamamos o local de " chuveirinho " , uma fonte brotava entre as pedras num ponto que poderíamos chamar de "cânion" entre a linha João Alves e o morro da Britadeira , local conhecido na época . Era uma água límpida , pura , que percorria a descida do morro, entre pedras , e densas matas nativas , até formar-se o arroio que abastecia o famoso "caveira" , e que transbordava por cima da taipa , e seguia seu curso .

Hoje, o pobre arroio recebe todos esgotos das vilas que se expandiram pela redondeza, não existem mais árvores nativas centenárias , não existe mais peixes , nem os pássaros raros , nada mais . O único lugar que mantém a natureza da época é a área do batalhão do exército, onde o pobre arroio ainda respira o ar puro no meio da mata existente , apesar da água totalmente poluída .

Assim vamos tocando a nossa vida , com muitas saudades do tempo em que convivíamos de forma harmônica ,respeitando e preservando a natureza .



Abraço.

Élvio.