Da série de Lembranças : O Colégio São Luis em
Santa Cruz do Sul .
Ontem, caminhando pelo centro de nossa cidade,
curtindo o sol numa tarde muito fria , típica do mês de julho , feriado
dedicado a homenagear a colonização alemã no município ,
sentei-me num banco da praça , local onde nos reuníamos nos tempos de ginásio,
hoje primeiro grau de ensino, tendo ampla visão da fachada do Colégio Marista
São Luis, fundado em 1903 , hoje com mais de 100 anos de existência.
Admirando a arquitetura comecei a imaginar,
quantas gerações forjaram naquele educandário as bases das suas formações
profissionais , quantas amizades nasceram e se mantém ainda dando
continuidade aquele convívio de colegas de classe, onde muitos migraram para
outros municípios , outros países , e alguns não encontram-se mais entre nós.
Colégio de orientação católica , mantinham o
hábito da oração no inicio e final de cada aula, havia também capela interna
para celebrações , mas respeitavam outros princípios individuais; esta
tolerância de aceitar outras formas de convicções e pensamentos representaram
para mim um exemplo de convivência pacífica com as diferenças, que hoje
infelizmente ainda representam motivos de guerras entre muitos povos e nações.
Os irmãos Maristas , ainda usavam aquelas
“batinas preta “ , alguns muitos disciplinadores outros nem tanto, algumas
figuras folclóricas , como o irmão Balduíno, um marista que havia atuado na
Europa por muitos anos, e trouxe consigo uma visão do velho mundo diferente
daquela em que vivíamos na década de 60 , aqui no Brasil. Ele lecionava
história e inglês , mas as aulas após uns 30 minutos se transformavam em sua
essência específica , ficava meio possesso e pronunciava grandes discursos
contra o regime da época; em dado momento ainda me lembro, que também estava-me
tornando revoltado , ensaiava algumas palavras do pobre vocabulário, próprio da
geração conhecida como “amordaçada”, mas que com o tempo acabamos amadurecendo
e entendendo melhor, que extremismos de quaisquer natureza são sempre perversos
e indesejáveis , há muitíssima similaridade entre o que chamamos de extrema
direita e a extrema esquerda, mas que não vem ao caso filosofar neste momento.
O futebol do “abacateiro” ; quadra de piso arenoso
, uma espécie de pó de brita muito fina, escorregadiço , tamanho futebol sete ,
que para jogar de pé descalço somente para quem desenvolvia aquele “casco duro”
na sola do pé. A quadra do abacateiro assim se chamava porque existia num canto
um frondoso pé de abacate , que costumava carregar da pesada fruta ,era famosa,
grandes disputas , e torneios , eram ali realizados ; árvore que atingiu um
grande tamanho , formosa , algumas vezes chutávamos a bola para derrubá-las.
Hoje não existe mais aquele espaço, que usávamos para as aulas de educação
física , e outras brincadeiras , e não existe nenhum ex-aluno que não se lembre
do famoso “abacateiro”.
Existia também um jogo da época que chamava-se
espirobol , ou qualquer coisa assim, tratava-se de um mastro com uma corda
fixada no seu topo , onde aprisionava-se uma bola de couro através de uma
lingüeta própria, sendo que a base era dividida em quatro partes em uma
circunferência cujo jogadores se dividiam na disputa , através do soqueio desta
bola, com objetivo de fazê-la enroscar no mastro.
Não poderia deixar de lembrar-me do seu Rodolfo
, um senhor de pele morena, de uma humildade invejável , bastante grisalho,
cujo olhos havia um semblante sereno e um tom cristalino raro levemente
azulado, provavelmente castigado pela idade avançada, não tinha a formação
Marista (irmão), não era natural de Santa Cruz , mas tratava-se de uma pessoa
muito especial para nós , era ele quem regava as plantinhas das floreiras do
corredor , nos ensinou a preservar e respeitá-las, que limpava o piso por onde
passávamos , varria o pátio; caminhava lento, parece que estou vendo-lhe , nos
chamava atenção quando das algazarras, tenho para com ele uma enorme gratidão,
guardo um enorme carinho , pelos muitos conselhos que recebi .
Muitas lembranças , uma delas era a famosa banda
marcial , muito comum da época, e assim como no futebol, havia também uma
grande rivalidade na cidade entre os colégios Mauá e São Luis , um evangélico e
outro católico, cada qual queria se apresentar melhor , sem quaisquer
sentimentos de maior conseqüências , a não ser a disputa sadia , disciplinada ,
de orgulho em representar a sua instituição . Na banda ensaiávamos duas a três
vezes por semana , apreendíamos músicas, uma delas, o Hino de Santa Cruz , cuja
letra inspiradora da nossa saudosa professora Elisa Gil Borosky , mas que tomou
"vida" na música do então violinista Lindolfo Rech. No dia de ontem
sentado naquele banco da praça também me veio esta recordação pela data
comemorativa, reservada ao município de Santa Cruz do Sul , cidade esta de
pujante colonização alemã na condição de colônia por volta de 1847 ,
emancipando-se em 1877 , e que este como outros educandários, muito
representaram , representam e representarão ainda , para muitas gerações .
Abraços
Élvio.