quinta-feira, 5 de julho de 2012

FAZ MAL ADOLESCENTE TRABALHAR ?

Recebo  um interessante mail do Rogério Panke de Santa Cruz.
Leiamo-lo:
Ola Sr. Ruy,

Não quero de nem uma forma consumir seu precioso tempo, apesar de ter a merecida aposentadoria, e curtir alguns dias no campo.

Agradeço a publicação do mail, que teve repercussão, pela importância do seu Blog.  Alias o visitei a pouco e o Dr Sandor Hoppe também lhe dirigiu um mail. Este Sr. Sandor foi por longo período o médico de confiança da minha mãe.  

Já ouvi boas  recomendações suas feitas pelo Mendelski, na Guaiba.

Bisbilhotei seu Blog, e vi diversos comentários interessantes, e como sugestão, se pudesses num dos próximos comentar, com sua visão de magistrado, sobre a impossibilidade dos nossos jovens em trabalhar, decorrência da legislação e puder praticar os demais atos, como:  traficar, furtar, matar, fazer filhos, etc.

Att.,
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É sobre a última frase que quero que me ajudem.
Pessoalmente acho que no Brasil as pessoas em geral e em especial muitas autoridades " boazinhas" entenderam mal o espírito da lei. Nem eu, nem a lei, quer que mandemos uma criança de 8 anos carregar sacos de 50 quilos, que  não vá a escola para ir capinar, enfim esses exageros.
Mas vou dizer uma coisa: benditos meu pai e minha mãe que nunca me deram mole. Sempre me mandaram cumprir tarefas dentro de casa ou no comércio do meu pai. Ajudava em tudo e eles fiscalizavam minhas notas no colégio.
Por não me deixarem vadiar é que não adquiri muitos vícios.
Por gostar de trabalhar acho que venci na vida.
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A prof. Lissi Bender da Unisc escreve:
entendi que a temática levantada por Herr Panke é instigadora e há tempo me incomoda. Cresci aprendendo a colaborar em família. Trabalho sempre incluiu e envolveu todos os componentes de minha família, desde meus pais, minha Wowa e nós crianças, independente da idade. Cada um contribuía conforme suas condições. Meu desenvolvimento físico e emocional não sofreu por isso. Pelo contrário, desenvolveu em mim o sentimento de pertencimento ao meu grupo familiar. Cresci sem ser parasita de ninguém. O trabalho sempre sustentou minha vida e o sustenta.Pelo meu  trabalho, pelas defesa de minhas ideias eu procuro me inserir construtivamente na comunidade, tento colaborar para promover reflexões sobre o modo como construímos e vivemos nossas vidas.



Considero crime a exploração infantil, mas considero igualmente crime impedir em nossas crianças o desenvolvimento sadio de pertencimento, para o qual a colaboração em família e o aprendizado (a iniciação para o trabalho) é imprescindível. Considero crime o desleixo para com a educação de nossas crianças por parte de seus responsáveis diretos, os pais, que transformam as escolas (e a TV ligada em casa), cada vez mais em depósitos para seus filhos, para  se livrarem de sua responsabilidade (inafiançável) de educação para a vida. Educação que deveria acontecer em casa por meio de ensinamento de valores, por meio de incentivo ao aprendizado, à colaboração para o desenvolvimento de um sentido positivo e saudável de pertencimento de autovalorização.  
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ROGOWSKI

Não sou psicólogo, antropólogo, enfim, não detenho qualquer conhecimento cientifico que me credencie a discorrer tecnicamente quanto à vedação legal ao exercício laboral juvenil.
Mas me recordo muito bem dos tempos de minha juventude quando não havia ociosidade, estudávamos e trabalhávamos. Os mais pobres trabalhavam fora e ajudavam no orçamento familiar, os menos pobres ajudavam em casa, nas lidas domésticas.
Tínhamos nossos períodos de lazer e brincadeiras em algum momento do dia ou nos finais de semana, especialmente na Igreja.
Claro que uma vez ou outra fazíamos das nossas, ninguém era santo, ou um cigarrinho sem filtro que obrigatoriamente tinha que ser fumado as escondidas, e, qual rapaz nunca tomou uma cerveja a mais, depois vomitou, levou uma bronca e um castigo do pai?
Apesar dessas “artes” eventuais, própria da curiosidade característica da faixa etária, éramos uma juventude sadia, recordo com cristalina clareza o quanto éramos felizes.
Terapia, psicóloga, eram coisas estranhas para nós, inexistentes em nosso vocabulário e universo.
Eu atribuo tudo isso precisamente e em grande parte ao fato de trabalharmos, de não vivermos na ociosidade.
Não podemos olvidar, todavia, que sempre existiu outra realidade, sobretudo, no norte e nordeste do Brasil, onde crianças e adolescentes eram submetidos a trabalho escravo ou quase isso, trabalho pesado, carga horária de 14 horas diárias ou mais, em condições insalubres, indignas, degradantes. Creio que esse foi o foco da legislação restritiva do trabalho do menor, a inibição desse tipo de exploração desumana.
Até onde eu sei, a legislação já sofreu alguma flexibilização com a criação do programa menor aprendiz permitindo que parte do quadro de funcionários de uma empresa seja composto por menores aprendizes, meu filho Rael Rogowski participou desse programa.
Talvez o programa devesse ser ampliado e simultaneamente revista à questão do serviço militar obrigatório que desestimula a contratação de jovens maiores de dezesseis anos e menores de dezoito anos pelas empresas, tendo em vista que a empresa se contratar um jovem antes do serviço militar, não poderá dispensá-lo até ele dar baixa do quartel, e, durante esse lapso temporal, suportará vários ônus trabalhistas enquanto o jovem estiver prestando o serviço militar.
João-Francisco Rogowski