Prezado Ruy.
Percebi muita poesia no relato que fizeste sobre tua lida no campo, se nâo me engano,
na semana passada. Percebi que vês beleza em pequenos detalhes e sabes dar atençâo
a plantas que outros vêem como inço. Aliás, nâo existe erva-má ou inço. Existem apenas
plantas. Desde que o ser humano selecionou algumas plantas para cultivar e outras para
eliminar, está criado o conflito: A natureza iniste na biodiversidade, e o ser humano insiste
na monocultura. A monocultura nâo é uma boa forma de "cuidar do jardim do Éden", e ela
nâo seria necessária se as megaempresas transnacionais investissem somas iguais na
pesquisa da agricultura biodiversificada quanto investem na agricultura monocultural. Na
tradiçâo judaico-cristâ (registrada na Bíblia), o Criador concede ao ser humano a dignidade
de parceiro no gerenciamento da criaçâo. Gênsesis 2.15: Entâo o Deus Eterno pôs o homem
no jardim do Éden para cuidar dele e nele fazer plantaçôes. O ser humano desenvolveu seu
saber para fazer plantaçôes. Urge desenvolver seu saber de como cuidar do jardim, que está
destruindo com rapidez assustadora. Há pessoas que se baseiam nos textos bíblicos para
afirmar seu poder sobre plantas e animais. Salmo 8.6-8: Tu deste ao ser humano poder sobre
todas as coisas que criaste ... Esquece-se quem assim argumenta que este poder é um poder
concedido. Se é poder concedido, ele deve ser exercido nas intençôes de quem o concede. E
este, certamente, nâo tem a intençâo de que sejam destruídas as coisas que criou.
Bem, Ruy, estou escrevendo tudo isto para dizer-te que gostei da forma como falaste sobre tua
lida no campo. Nâo falaste de arrancar inço ou de envenenar espinheiros, mas falaste com
sensibilidade das plantas e dos animais. Por isso, envio-te uma poesia que escrevi, faz algumas
semanas, sobre o tema Paz na Criaçâo que é o TEMA DO ANO da IECLB, Igreja à qual pertenço.
O mumúrio das vertentes
Nas ladeiras da colina.
Cantoria de saracuras
Nas ramadas da campina.
O labor do Joâo de Barro,
O arrulho da pombinha
Balbuciam a oraçâo
Pela paz na criaçâo.
O rugir da cachoeira,
O silêncio do remanso.
Os segredos da floresta,
E a fera em descanso.
Muitas ervas nas lavouras,
Mil cantares entre flores
Balbuciam a oraçâo
Pela paz na criaçâo.
O suspiro da saudade,
Galanteios e rumores.
O espanto da surpresa,
O sussuro dos amores.
Cada fôlego de vida,
Cada flor que desabrocha
Balbuciam a oraçâo
Pela paz na criaçâo.
Alimento esperanças
De ver cada ... aahh ... de vida
Alcançar sua formosura
Com espaço e guarida,
Com seu próprio ... oohh ... de ser
Seu direito de viver.
Essa é minha oraçâo
pela paz na criaçâo.
Com votos de bons dias, fico
com um abraço. Silvio.