sexta-feira, 11 de novembro de 2011

AINDA AS FAMÍLIAS - BELO TEXTO DE MICHELE ANDRES


Recebi da Tenente Michele:

Caro Ruy,

me reportei à infância lendo teu texto.

Não tínhamos (e não temos) grandes posses e, quando nasci, a situação financeira não era das melhores, mas nunca passamos fome. Recém-nascida, dormia em duas cadeiras de palha, encostadas à cama de meus pais; o berço veio bem depois, usado. Minha mãe fazia minhas roupas. Não tinha todos os brinquedos que queria e ela sempre me explicava que não podia comprar (naquela época não havia lojas de R$ 1,99 nem brinquedos a preços baixos), algumas vezes eu entendia, outras não, mas isso não se tornou, de forma alguma, em rebeldia. Pelo contrário, mostrou que era necessário estudar para poder adquirir os bens materiais desejados.

Eu tinha horários para dormir, para estudar e para brincar. Minha irmã comprava livros para mim e me ensinou a escrever palavras básicas como mãe, pai, vovô e vovó aos 3 anos. Quando fui para a 1ª série, já sabia ler.

Me sinto uma felizarda por ter tido uma educação tradicional. Meu pai nunca me bateu, mas bastava um olhar para dar o seu recado. Minha mãe era um pouco mais brava, mas nunca levei uma surra.

Recebi muito carinho deles; talvez por isso, sou e sempre serei muito apegada com eles, sempre querendo dividir tudo, desde experiências até bens materiais.

Com meus pais, aprendi valores básicos como respeitar os mais velhos, nunca roubar e a dar valor ao trabalho. Nunca me privaram dos assuntos dos adultos; na adolescência eu participava de tudo o que ocorria na casa. Foi assim que comecei a trabalhar com 14 anos e com carteira assinada (hoje a legislação veda qualquer tipo de trabalho ao menor de 16 anos, salvo na condição de aprendiz, a partir dos 14 anos), o que não me deu prejuízo nenhum, bem pelo contrário!

Assim como aconteceu contigo, nunca os chamei por senhor ou senhora, sempre por tu, o que não significava, de forma alguma, falta de respeito.

Meu pai é um exemplo de que a leitura é um dos maiores bens que temos; sempre o vi lendo o jornal e argumentando sobre política e economia. Também foi e é o meu mentor nas questões ambientais, pois aprendi a amar a natureza com ele.

Acredito que tudo o que sou hoje devo aos meus pais, pelo carinho e pela educação que me dedicaram e não trocaria minha infância por nada neste mundo!

Michele