quinta-feira, 20 de outubro de 2011

TEOLOGIA, RELIGIÃO, BIBLIA, DIREITO

( TEXTO DE ROGOWSKI)
Agradeço ainda a promoção ao posto de Perito em Teologia, entretanto, não faço jus à tamanho galardão. Meus estudos nessa área não têm outro propósito que a satisfação do desejo de conhecimento e também para o deleite pessoal, sem pretensões ao Magistério ou a literatura teológica, salvo se Deus mandar, daí, como servo, devo obedecer.
A Teologia me fascina por que a meu ver se intercomunica com as ciências jurídicas e sociais e com a filosofia, mas antes de prosseguir, quero registrar a questão das personagens femininas na Bíblia.
Referisses Joquebede, esposa de Anrão, Mãe de Moisés, Miriã e Arão e que era escrava no Egito. Em relação à vida de Moisés vejo como importante também a Filha de Faraó, moça de coração compassivo, meigo e nobre, usada por Deus para salva-lo da morte.
A presença feminina na historiografia Bíblica é de suma importância. Basta ver a Virgem Maria por ti mencionada, pessoa que não foi apenas escolhida para dar a luz à Jesus, mas que sem dúvida teve uma participação bem ativa no Ministério de seu filho, e, inclusive, estava reunida com os discípulos no dia de pentecostes e foi batizada pelo Espírito Santo.
Poderíamos citar ainda dezenas de outras mulheres importantes na Bíblia. No Antigo Testamento, Sara (Gênesis 17,15-16), Rebeca (Gênesis 24,67),Raquel e Lia (Gênesis 29,16-20), Míriam (Êxodo 15:21), Raabe (Josué 2,1.9), Debora e Jael (Juízes 5,7.24), Rute (Rute 1,16; 4,13-14), Ana (1Samuel 1,27; 2,1), Ester (Ester 4,13,14), Hulda e Judite (Judite 15,9).
No Novo Testamento a figura mais importante é indubitavelmente Maria, a mãe de Jesus, já referida, mas há outras diferentes marias que acompanharam Jesus até aos pés da Cruz, especialmente Maria Madalena. Temos ainda VerônicaPriscila em Atos 18, Febe, que em Romanos 16,1 que é considerada como uma diaconisa e outras.
Eu citei a história de José e me abstive de citar o universo bíblico feminino, precisamente para não vincular a imagem feminina ao histórico de crimes relatados na Bíblia, veja que nem mesmo o nome de Eva, Mãe dos irmãos Caim & Abel, eu citei.
Enfim, tentei ser cavalheiro! (he he he)
Mas falando sério, duas coisas importantes quero registrar nesta epístola, uma de cunho ESPIRITUAL e a outra relacionada com CRIMES relativos aos Direitos Humanos.
aESPIRITUAL:
Esta semana tive a oportunidade de conversar com o Professor Sture Lundqvist, ele fala um pouquinho de português (morou em Portugal) e eu falo um pouquinho de inglês, então nos entendemos bem.
Ele é Pastor Luterano em Leksand, Suécia, e está em Porto Alegre ministrando aulas sobre a História da Igreja e relatou o grande avivamento espiritual que está ocorrendo na Igreja Luterana Sueca nos moldes do que já aconteceu na Igreja Católica Romana com o advento do Movimento Carismático. E, assim como houve dentro da Igreja Católica resistência e certa rejeição inicial aos católicos carismáticos, o mesmo está ocorrendo em relação aos Luteranos Carismáticos, sobretudo, pelo fato de que, após o batismo com o Espírito Santo, passam a se manifestar no crente os dons do Espírito conforme está escrito em 1 Coríntios 12, sendo o dom de falar em línguas estranhas talvez o que mais assuste aos mais conservadores.
Entendo que esse avivamento que iniciou com o Movimento Carismático na Igreja Católica Romana e agora chega à Igreja Luterana, perpassará por todas às Igrejas, trazendo unidade entre os Cristãos ou quiçá, o surgimento de uma nova Igreja ou ressurgimento da Igreja Primitiva espiritualmente forte como foi até o século 3º d.C.
Saúdo o avivamento sem olvidar, todavia, a exortação do Apóstolo Paulo: “Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o sino que tine. E ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse amor, nada seria.” (1 Coríntios 13:1-2).
b) CRIMINAL:
Embora convivendo num contexto de erudição teológica e de liberdade de idéias, especialmente, em conexão com Cristãos da Suécia com os quais muito tenho aprendido, assim mesmo tenho encontrado algum grau de dificuldade para expor minhas próprias conclusões decorrentes da observação da vida hodierna pelos óculos da Teologia.
Pela minha natureza até certo ponto impetuosa e formação intelectual, duas questões me preocupam sobremaneira, a defesa da natureza(preservação da obra criacional de Deus) e os Direitos Humanos.
DEFESA DA NATUREZA:
Eu percebo Deus como um ser ecológico, criador e defensor da vida. A ecologia precisa estar presente nas religiões, pautando as reflexões da teologia e fazendo parte da agenda pastoral das igrejas – de todas as igrejas.
O cristianismo contemporâneo a meu sentir não vem contribuindo para que a humanidade tenha uma postura de cuidado e preservação da natureza, do planeta, de tudo o que Deus criou com tanto amor e com tanta beleza.
É espantoso o silêncio das lideranças religiosas frente à destruição do planeta. No Brasil as Igrejas são omissas e silentes quanto à destruição do planeta (ecologia). Somente neste ano é que a Igreja Romana através da CNBB (confederação nacional dos bispos brasileiros) se posicionou oficialmente, ainda que timidamente, contra a destruição da natureza.
DIREITOS HUMANOS:
Também me causa assombro a timidez como é tratada pelas Igrejas a questão da violação dos Direitos Humanos de Cristãos em todo o mundo.
O Jornal Sueco Världen idag (Mundo Hoje) refere que a cada cinco minutos um cristão é morto no mundo por causa da sua fé. Refere ainda que um estudo internacional mostra que 105.000 cristãos são mortos a cada ano, apenas por causa de sua crença.
O cardeal Peter Erdö, arcebispo de Budapeste, presente na Conferência Internacional sobre o Diálogo Interreligioso entre Cristãos e Judeus, realizada em Budapeste, alertou de que muitas comunidades cristãs no Oriente Médio morrerão porque não terão como fugir de lá.
Segundo o boletim pró-vida INFOVITAE, outro fato lamentável é que pelo menos um milhão dos cristãos perseguidos no mundo são crianças.
Por vezes fico aborrecido por ver tanta alienação e hipocrisia dentro das Igrejas, tantos sermões, louvores e adorações, muito blá-blá-blá, enquanto um milhão de crianças cristãs estão sendo perseguidas e pouca importância a isso se dá no púlpito.
Às vezes me dá vontade de fazer como Bento de Núrsia que se instalou em uma gruta de difícil acesso, a fim de viver como eremita. (Ele foi o fundador da Ordem Beneditina).
Claro que o culto religioso é importante, em especial a pregação da Palavra de Deus, o Louvor e a Adoração, enfim, a comunhão espiritual é imprescindível desde que associada a uma prática Cristã proativa no mundo, pois, voltando à admoestação do Apóstolo Paulo: “E ainda que distribuísse toda a minha fortuna para sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, e não tivesse amor, nada disso me aproveitaria.” 1 Coríntios 13:3
Por fim quero agradecer ao Reverendo Silvio Meincke por seus comentários e pelo precioso tempo que despendeu em responder-nos ao passo que lamento por ele estar privado temporariamente do prazer de escrever. O seu livro Ser feliz e outros temas atuais será o presente de Natal que pedirei aos meus filhos.
Li com bastante atenção seus comentários especialmente quando ele refere que muitos personagens bíblicos como os citados Caim e Abel não existiram de fato, mas que são lendas bíblicas que revelam padrões e idéias para nos transmitir conhecimento como a de que a civilização é construída por irmãos que se matam, como nas guerras, por exemplo. Ou a história de Abraão e Isaque nos mostrando que nenhuma criança deve sofrer, nem mesmo em nome da maior fidelidade, da mais ardente obediência, pelo fato que isso colide com os interesses da natureza de perpetuação da espécie, acrescento eu.
Lembro-me que na Faculdade de Direito estudamos alguns dos principais livros sagrados de algumas das religiões mais conhecidas (por respeito abstenho-me de citar nomes). Foi um estudo superficial, sem cunho teológico e sim sob a perspectiva da religião como fonte do direito, mas me surpreendi muito ao verificar as inúmeras narrativas com traços comuns de similaridades em diferentes livros sagrados. Ficou obvio para mim que muitos desses arquétipos bíblicos também são encontrados em lendas e tradições de povos que não conheceram as escrituras judaico-cristãs. Seriam, portanto, idéias e imagens que vêm de tempos imemoriais, dos primeiros tempos da Humanidade e que se repetem na história das civilizações.
Porém, a idéia de uma simbologia e arquétipos bíblicos é bastante reprimida por uma intensa resistência em alguns círculos fundamentalistas e obscurantistas da cristandade, que preferem se acomodar preguiçosamente em interpretações literais, pobres e ingênuas da Bíblia, do que empreender o sacrossanto dever de pensar, meditar, refletir, compromissado com o princípio da verdade real. Para não sair de sua zona de conforto psicológico, alienam-se fechando os olhos e os ouvidos à voz da consciência e acabam assim presos no cativeiro da indigência mental e escravos das trevas da ignorância. “Porque o coração deste povo está endurecido, E ouviram de mau grado com seus ouvidos, E fecharam seus olhos; Para que não vejam com os olhos, E ouçam com os ouvidos, E compreendam com o coração....”. Mateus 13:15
Talvez, por isso, o vocábulo “arquétipo” não tenha sido utilizado expressamente por AGOSTINHO, mas sua idéia, no entanto está presente, por exemplo, em "De divers is quaestionibus", "ideae... quae ipsae format ae non sunt... quae in divina inielligentia continentur”. (idéias... que não são formadas, mas estão contidas na inteligência divina).
Desculpem-me por ter me alongado, mas o tema é para mim apaixonante, já começo a pensar em criar um Blog para esses assuntos específicos.
Agradeço pela paciência e atenção a mim dedicada.
Forte Abraço à todos!
Rogowski
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JOÃO-FRANCISCO ROGOWSKI