quarta-feira, 12 de outubro de 2011

MATEMÁTICA, VIOLINO, FILOSOFIA, A VOLTA DAS CARTAS.


Vocês já notaram que tenho diletos amigos que frequentam minhas páginas.
Um deles, o Des. Foerster não se assustou com o choque do grande meteoro que acabou com as cartas entre amigos. Como eu e tu, leitor/a ele tratou de aprender a" bater à máquina no computador".
Outros, como meu amigo Sulzbacher ,não me manda mais cartas de papel e nem aprendeu a lidar com  electric mails.
Ultimamente comprazo-me em escrever e receber mails " cabeça" de um número cada vez mais crescente de amigos.
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Agora vamos a uma troca de correspondência entre o filósofo e professor PAULO RUDI SCHNEIDER e seus amigos, tendo por referência o professor Fritz Nestle:

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Meus caros,
não sabia que o professor** estava tão doente. Também vou torcer pela recuperação da sua saúde. Ele foi o meu mais criativo professor de matemática, isso é, questões de puro conteúdo matemático eram apenas a possibilidade de um salto para muito mais. Matemáticos medianos, sabia ele, são apenas crentes em suas divindades axiomáticas. Com ele aprendi que matemática nunca pode, nem deve ser absolutamente exata, pois jamais poderá provar os axiomas de que parte. O exercício matemático nunca pode ser aplicado a si mesmo, sob pena de se tornar absurdo. A prova mais cabal que existe é aquela que prova que não há prova alguma, e tudo termina numa ficção congelada tentando organizar o que se supõe ser a realidade e apostando na crendice do povaréu em geral para contar dinheiro, melancia, bergamota, variáveis estatísticas sobre criminalidade, etc. Talvez ele nos tenha aplicado a prova de Gödel muito cedo introduzindo-nos numa estranha, mas de certo benfazeja inquietação. Um dia me perguntou para onde eu ia com o violino. Meio desconfiado, respondi que iria para lugar nenhum e só fazer um som com a madeira, as cordas e o arco, e ele me disse:¨"Pois é! Nada!" Tive que concordar, mas lhe disse que isso era bem mais barulhento do que a matemática em geral. Disse ele, então:"Pois é, tudo depende dos critérios, mas que jamais chegam a ser grande coisa". Nisso um sabiá sobre nós cantou no alto de uma das árvores da alameda de uva japonesa e chegamos à conclusão de que o pássaro desinibido não perguntou coisa alguma a alguém e não tem critério algum para o seu trinar, pois o filho da mãe apenas trina. "Ele só se expressa", concordamos. "Pois é, como também nós com matemática e violino", concordamos de novo. Desde esse momento aprendi que o maior argumento na vida é:"Pois é!" Ou em alemão:"So ist's!" Talvez isso seja parte do que Heidegger chama de Gelassenheit, serenidade. Abençoado e grande professor com o seu sadio ceticismo sempre arrastando uma pontinha de esperança nesse universo imponderável e um tanto suspeito que habitamos. Além da torcida pela sua saúde lhe desejo que permaneça no estado de alma de Gelassenheit, resolvendo em que estrela irá desembarcar para nela continuar a explodir o seu pensamento.
Fico imaginando com inveja os diálogos entre ele e o Professor (de Grego da época de Péricles) flautista e pianista Krehl (hj com 90 anos), que também é uma figuraça de respeito. Penso que essa Alemanha é muito pequena para os dois.
Um abraço do
Paulo*