Como vocês sabem, só nossas mães sabiam cozinhar bem; depois a dona Maristela pirateou os segredos da minha.
Eu hauri alguns conhecimentos da bruxinha dona Ludmila, de modo que sempre me invoco com essas tontinhas, tanto da cidade como da campanha, que não sabem fazer comida.
A primeira coisa que ensinei para dona Marilza, esposa do meu capataz, foi desligar a TV na hora de cozinhar. Depois, dar uns gritos com os ranhentos, mandando eles ficar quietos.
Depois, aos poucos, lhe expliquei - e ela aprendeu -que comida não é para matar a fome. E que vinho não é para tomar um porre.
Comida e vinho são para apreciar.
Saí agora de tarde pro campo no meu estiloso cavalo Poeta que, apesar de não ser santiaguense, é poeta no seu jeito maneiro. Coloquei meu poncho de napa mesmo e minhas botas com solado de pneu, que não sou fazendeiro fresco, metido a riquinho. Eu sou só um campeiro a mais na fazenda.
Agora vou comer o espinhaço, que os riquinhos chamam de " carré", se desmanchando. Só uso as mãos e tenho ao meu lado um baita pano de prato para limpar os beiços.
E um copo de Trapiche, cabernet sauvignon.