sábado, 30 de julho de 2011

UN AMOR BRUJO ( um conto meu readaptado)

Pois dou a palavra ao Álvaro - chamêmo-lo assim, para que nos conte com suas próprias palavras.
- Tchê Ruy, eu estava quieto no meu canto, casado, uma filhinha, cuidando da minha fazendola.
Foi quando minha mãe, que morava em Porto Alegre, adoeceu e veio a falecer.
Eu era muito ligado à mamãe e chorei demais, sem parar, no velório. O enterro ia ser às quatro da tarde. Lá pelas três, estava sentado ao lado do caixão, chorando, quando minha mulher me cutucou:

- Álvaro!
Levantei a cabeça e vi um casal bem vestido. Ele de terno e gravata, um bonitão de seus quarenta anos e, vejam só, a Laurinha.

A Laurinha que fora minha namorada nos tempos de faculdade, lá em Pelotas.
Ela conhecera minha família. Tinha passado férias na fazenda, a gente tinha tomado banho pelado nas sangas e feito amor até em cima de pedras.
Nunca mais a tinha visto, pois me formei, ela continuou estudando, eu me mudei de cidade, conheci a Carmem, hoje minha mulher, e desmanchei o namoro com a Laurinha.
Foi custoso esquecer a Laurinha, que era meiga, fogosa, insaciável, louca na cama.

Carmen era calma, plácida, serena. Me atirei na administração dos negócios e fui esquecendo a Laurinha.
Agora aí estava a antiga namorada, de terninho, com seu marido. Ela de calças apertadíssimas deixando-me entrever côncavos e convexos.
Levantei-me. Laurinha viu meus olhos vermelhos e pulou no meu pescoço, me dando um abraço de corpo inteiro, chorando e me consolando.
Ela estava com seus longos cabelos encaracolados encobrindo toda a frente do meu rosto naquele abraço que compreendia pernas, ventres e peito. Seus mamilos me espetavam. Eu sentia a febre do seu baixo ventre.

E eu afogado, com olhos e nariz dentro dos cabelos dela, e, como um que está se afogando, senti voltar, como num filme, os amores que fazíamos lá na fazenda.
Aquele abraço quase indecente, na frente do caixão da minha mãe, na frente da minha mulher, na frente do marido dela.
E eu sentindo o calor daquela fêmea, o fogo daquela lágrima que ela deixou escorrer no meu pescoço. Instintivamente já ia iniciar os movimentos pélvicos, com roupa e tudo.
Até que senti alguém me tocando no ombro:

- Dr. Álvaro! Dr. Álvaro!
Desvencilhei-me da Laurinha. Era o marido dela, consternado, também com os olhos marejados, me dando a mão.

- meus pêsames, dr. Álvaro.
- Obrigado.

Laurinha ficou de braços com seu marido, chegou perto do caixão, fez o sinal da cruz e sentou-se numa cadeira. Séria, olhando para o chão.
Olhei-a de novo, Ruy.
Ela estava absolutamente elegante, com uma camisa de seda e um colar discreto de pérolas, que mais embelezavam seu pescoço esguio que tanto eu beijara e mordera.
Só um pouco antes de se retirar, levantou seus cílios quilométricos e me lançou um olhar, com seus olhos escuros.
Me olhou e saiu do velório de braços com seu marido.

E eu aí com a cabeça cheia de marimbondos.
Fiquei uns dias com papai, na cidade, quando tocou o telefone.

Era Laurinha perguntando pelo meu tata, queria saber como ele estava.
-olha Laurinha ele está no banho, me dá teu número que ele retorna.
- não precisa, mais tarde eu ligo.

Ruy, fiquei três horas ao lado do telefone e ele não tocou.
No outro dia, quando já arrumava minha mala, tocou o telefone.
Era ela.
-Laurinha, me dá teu número, eu preciso falar contigo.
-sobre?
-Laurinha, eu queria receber mais um daqueles abraços que me deste no velório.

Tchê Ruy, ela ficou muda do outro lado da linha. Passaram-se alguns segundos e ela disse:
- álvaro, eu estou bem casada, ta certo que não é uma Brastemp, mas não quero brincar com fogo.
-Laurinha, só quero mais um abraço e não incomodo mais.

-Tá Álvaro, vou pensar. Me dá teu celular. Qualquer coisa te ligo.
Voltei para a fazenda, Ruy,. Passava a cavalo pelos lugares onde tínhamos namorado e fui ficando cada vez mais inquiteto.
E a Carmem me indagando:
-Álvaro, está tudo bem contigo?
Eu desconversava – são as dívidas, Carmen, são aqueles “sem terra” nos ameaçando, é a soja que não vale nada por culpa do Lula.

Carmen, que tinha sido do PT ,já dava risada.
- agora tudo é o Lula. Sai dessa.

E nada de vir o telefonema.
Passado um mês inventei que tinha que ir numa palestra na Farsul, era um tal de Dr. Nestor Hein e um tal de Dr. Alfonsin que iam falar sobre as dívidas rurais e me mandei a Porto Alegre.

Passei na casa do meu pai e lhe perguntei se ele não tinha o número da Laurinha:
-Pois é, meu filho, ela ligou perguntando por ti, ela disse que tinha perdido teu número e então informei o da fazenda. O numero que ela deixou é este aqui.

Bah, Ruy, era um convencional.
Fiquei uma hora pensando, tomei coragem e liguei.

- trim, trim, trim
- alô, era voz de homem.
Puxa que azar.
Pensei rápido, não adianta eu desligar agora. Falei.
-quem é que fala?
- é o Otávio.
- por gentileza, a D. Laura está? Aqui é o Álvaro, eu conheci o sr. no velório da minha mãe, eu poderia falar com ela?
- pois não, ela está na empresa, anote aí o nº.
Pombas, que crime eu estava fazendo. A moça bem casada e eu louqueando. Já estava pensando em me separar.
Quando fazia amor com Carmen, fechava os olhos e pensava nela.
Mas, Ruy, não conseguia parar de pensar naquela mulher.
Decidi não ligar. Deixar tudo só nos sonhos.
Deletei seu numero.

Virei um zumbi dos meus projetos.
Passei a andar errante pelos campos.
Eu e meu segredo.
Eu e minha loucura
.