DISCURSO POR OCASIÃO DO CAFÉ
GERMÂNICO CULTURAL
ALUSIVO AOS 400 DIAS PARA O
BICENTENÁRIO DA IMIGRAÇÃO ALEMÃ
PROMOVIDO PELO MUNICÍPIO DE
SANTA CRUZ DO SUL E PELA COMISSÃO OFICIAL DO BICENTENÁRIO DA IMIGRAÇÃO ALEMÃ
SANTA CRUZ DO SUL, 26 DE
JUNHO DE 2023
BICENTENÁRIO DA IMIGRAÇÃO
ALEMÃ NO BRASIL UMA FESTA DA INTEGRAÇÃO HUMANA
Rafael Koerig Gessinger
A referência óbvia para o
Bicentenário é o ano de 1824. E, de fato, é com base num acontecimento ocorrido
naquele ano que gostaria de começar. Mas não é um acontecimento ligado a
navios, viagens ou a um grupo de pessoas corajosas que deixou a Europa em
direção ao Brasil. Não. Trata-se da estreia de uma composição musical. Em 7 de
maio de 1824, em Viena, tocava-se, pela primeira vez na história, a composição
que consagraria os seguintes versos do poeta Friederich Schiller:
Deine Zauber binden wieder,
Was die Mode streng geteilt,
Alle Menschen werden Brüder,
Wo dein sanfter Flügel weilt.
Que teus encantamentos liguem
novamente
O que os modismos separaram
severamente,
Todas as pessoas tornam-se
irmãs
Onde tuas suaves asas
demoram-se.
Schiller está falando da
alegria (Freude), que tem o poder de fazer sorrir, que tem o poder de iluminar
mentes e corações, que tem o poder de construir pontes e de fazer amigos, que
tem o poder de vencer modismos que separam. É justamente nesse registro que a
Comissão Oficial do Bicentenário da Imigração Alemã tem pensado o Bicentenário:
como uma festa da integração humana. Alle Menschen werden Brüder!
Quando o Governador Eduardo
Leite fez publicar, em setembro de 2021, o Decreto 56.110 para organizar as
comemorações, o recado foi claro: o Rio Grande do Sul celebra a integração
humana, o Rio Grande do Sul celebra o migrante e seus encontros culturais.
Exaltemos, portanto, as culturas e seus encontros. E tudo isso não somente com
os olhos no passado, mas, como muito bem vêm insistindo o Cônsul Simandl, o
Diretor Hoffmann, do Goethe Institut de Porto Alegre, e o Secretário de
Justiça, Cidadania e Direitos Humanos, Mateus Wesp, com os olhos no futuro.
É, por isso, que a Comissão
também volta seus olhos para o futuro, provocando vários atores e diversas entidades.
São muitas as frentes que estão sendo estimuladas: ciência, cooperação técnica,
economia, agricultura, intercâmbio acadêmico, arquitetura, gastronomia, música,
cinema, cidadania, direitos humanos, literatura, língua alemã,
sustentabilidade, turismo, enfim, nada escapa ao Bicentenário.
Mas um elemento simbólico,
talvez não tão palpável, tem a ver com a reflexão sobre a migração e o migrante
de ontem e de hoje. Afinal, quem saiu da Alemanha há 200 anos? Quem chega na
Alemanha hoje, no século XXI? Quem chegou no Brasil há 200 anos? Quem chega no
Brasi hoje, em 2023?
A resposta deve ser única:
Seres humanos. Pessoas! Nós! Quem saiu da Alemanha há 200 anos e quem chega na
Alemanha hoje? Pessoas! Humanos! Quem estava no Brasil há mais de 500 anos e
quem chegou ao Brasil nos últimos séculos? Pessoas! Seres humanos! Nós!
Antes de tudo, o fenômeno
migratório é um fenômeno humano. Acidentalmente, é fenômeno acentuado neste ou
naquele período, nesta ou naquela região. Mas deveríamos aproveitar nossa
capacidade de nos debruçarmos sobre nós mesmos, sobre nossa própria história e
nossa própria atualidade, para percebermos que a migração diz respeito ao ser
humano, simplesmente, e não a este ou aquele grupo étnico ou político ou
social.
Segunda-feira passada ouvi da
boca de uma migrante colombiana que mora em Porto Alegre, por ocasião da
Abertura da Semana do Migrante: “Sentir-se acolhido é o maior bem que um
migrante pode experimentar.” Também foi muito repetida naquela noite a frase de
São João Batista Scalabrini: “Para o migrante, pátria é a terra que lhe dá o
pão!” A nova Lei de Migração, Lei 13.445/2017, bem como a política estadual de
migração que será examinada pela Assembleia Legislativa, revela a maneira como
o fenômeno da migração humana deve ser compreendido atualmente, a saber,
assumindo a universalidade, a indivisibilidade e a interdependência dos
direitos humanos, afirmando a acolhida humanitária e o repúdio à xenofobia e ao
racismo, e promovendo o desenvolvimento econômico, turístico, social, cultural,
esportivo, científico e tecnológico do Brasil. O migrante foi, é e será,
sempre, uma enorme riqueza que deve ser comemorada e valorizada.
Prova disso é o sucesso de
Santa Cruz do Sul e de todo o Rio Grande. O migrante de hoje é o bem[1]sucedido
cidadão de amanhã.
Por tudo isso, o Bicentenário
celebra a pessoa humana e sua capacidade de enfrentar desafios, de acolher, de
se adaptar, de olhar o próximo como irmão e de partilhar sofrimentos e
vitórias. O Bicentenário da Imigração Alemã quer ser a festa da fraternidade
entre todos, sem exceção, uma genuína festa da humanidade inteira!
Com esse espírito, o Governo
do Estado do Rio Grande do Sul, por meio dos Gabinetes do Governador e do
Vice-Governador e das Secretarias que fazem parte da Comissão - Cultura, Turismo,
Desenvolvimento Econômico, Comunicação, Segurança Pública e Justiça, Cidadania
e Direitos Humanos - além da UERGS e de mais de 50 entidades da sociedade
civil, coloca-se como parceiro de todas as instituições e pessoas interessadas
em fazer, ao longo de 2024, eventos e projetos que celebrem a vida e a pessoa
humana tomando como referência histórica os 200 anos da imigração alemã, mas
projetando o passado até o presente e mirando o futuro como palco de valores
cada vez mais sólidos, como a liberdade, a igualdade e a fraternidade, tudo
isso em torno de uma ideia viva e vibrante de dignidade humana.