sábado, 27 de março de 2021

ROGÉRIO MENDELSKI

 Aniversaria hoje meu amigo de dezenas de anos, Rogério Mendelski.

Acompanho-o desde muito .

Fui conhecê-lo melhor quando aceitei o convite do Paulo Sérgio, para fazer um programa dominical, das 7 às 9,30 na Rádio Pampa de Porto Alegre. Rogério tinha um programa matinal, de segundas a sexta. Em seguida ele e Paulo Sérgio me convidaram para fazer uma intervenção todos os dias pela manhã. Isso nos aproximou muito.

Quando Rogério mudou de de emissora, eu saí da Pampa porque não tinha mais tempo, já que tinha o escritório e a fazenda para cuidar.

Hoje nos comunicamos quase que diariamente pelo Watts.

Rogério é uma pessoa íntegra, muito sociável e tem convicções firmes. Maneja muito bem vários idiomas, lê muito, conhece como poucos música de qualidade.

É amigo dos seus amigos.

Então vai aqui um forte abraço para essa pessoa admirável.


quinta-feira, 25 de março de 2021

VACINA, CHEGOU MINHA VEZ

 Eu tinha três opções para me vacinar. Unistalda onde se situa nossa fazenda. Cinco mil habitantes. A maioria de pessoas com poucos recursos. Achei que não me seria lícito tomar o lugar de alguém pobre. Essa é a palavra: pobre. A maioria é de uma pobreza digna. São pessoas honestas, respeitosas, todos se conhecem . Mas ficaria horrível tirar de qualquer habitante sua chance de se vacinar.

Teria a possibilidade de optar por Xangri La, onde estou recluso naquele paraíso. Tenho tudo de que preciso. Mas nem tudo são flores na rica e pequena cidade. Quem passa pela estrada do mar e cruza olhando à esquerda vê inúmeros casebres. Tem muita gente pobre, conquanto não haja criminalidade. Daí que eu digo que são heróis os garis, os pedreiros, pintores, cortadores de grama, catadores de latas de cerveja. 

O novo prefeito, meu amigo Celsinho, recém assumiu, está fazendo o que pode. Mas seria muito feio eu me vacinar lá, considerando que as vacinações estão atrasadas. Esses dias passei por um lugar de vacinações e dava pena de ver pessoas de idade na fila, num sol inclemente. Lá estão no calor, sem se queixar, conformados, mas sem uma cadeira para sentar. Vamos ser francos: uma coisa é uma pessoa que teve condições de manter boa saúde e outra é um peão de obras, embora ambos tenham a mesma idade.

Descartei Xangri La.

Restou Porto Alegre, onde também tenho casa.

Quando soube que haveria vacina para as pessoas  de 75 anos, me dirigi à Capital e fui direto no Barra Shopping . Não quis ir onde haveria filas na calçada, pois temia aglomerações.  Optei pelo drive thru. O pátio de estacionamentos estava lotado . Em seguida, todavia, consegui entrar. Em 30 minutos cheguei ao subsolo onde aguardavam os enfermeiros. Mostrei minha identidade e a conta de luz para provar que também morava em P. Alegre. Me fizeram algumas perguntas e o pessoal do Exército que coordenava toda a operação, se mostrou duma gentileza ímpar  . Fiz a vacina em questão de 30 minutos.

Dia 8 será o reforço. Os militares me deram uma caderneta onde tudo está apontado. Que organização! 

Aqui na praia 90 por cento dos caminhantes são jovens. E acreditem, pasmem, não usam máscaras.

Será que não se flagram? Será que não  atinam que a doença é muito dolorosa?

Praza aos céus que o Presidente , os governadores e os prefeitos cuidem mais da administração, de preferência fiquem mais quietos,unam-se, as eleições estão longe e deixem o resto para os médicos e trabalhadores da saúde, esses anjos do bem.

……….

Moro: eu não disse desde o começo?  Ovelha não é para mato.


quinta-feira, 18 de março de 2021

MÚSICA É TUDO DE BOM

 Eu me comovo  por qualquer coisa. Sempre fui assim quando se tratasse de arte,música, solidariedade, compaixão, doença de amigo, falecimento.

Esses dias achei no Spotify um pedaço da Sétima de Beethoven, uma versão bem pequena, não me lembro dos compassos. Achei ousado e lindo o arranjo calcado sobre uma liberdade total em cima da circunspecção das pautas originais. Troquei umas idéias com a Silvia Agnes que me referiu ter chorado quando cantou uma parte da Nona  de Beethoven na Ospa. Mas se recompôs minutos depois.

Falávamos sobre essas coisas no grupo de  Watts, quando se chegou ao assunto emoção musical.

Depois de me aposentar  consegui mais tempo para compor. Tenho dois CDs gravados e muitas obras esparsas. Um dia me inspirei e compus, madrugada a dentro, uma canção para concorrer num festival. Meu estilo é introspectivo, não gosto de gritedo, olho o Pampa, a vida, as coisas do campo, com olhos  de sinceridade na alma. Nada de absurdos que não se sustentam . Por sinal há muitos compositores que plagiam escancaradamente e retratam em suas obras quimeras falaciosas.Mas para executar  procuro depois um auxílio para a harmonia.


Meu trabalho foi aceito pela comissão de triagem. Reuni amigos músicos e começamos a ensaiar. 

No dia da apresentação fizemos a passagem de som com normalidade. Eu tinha levado um dos meus violinos, um Yamaha eletrônico. Sim, o violino clássico fica prejudicado com o som do ginásio. Melhor  eu usar o violino eletrônico para eu poder me ouvir.

Pois quando demos a largada já na apresentação em palco, não é que me emocionei de tal maneira, que comecei a verter lágrimas e me perdi campo a fora? O diretor do som notou e me desplugou. O meu grupo foi até o fim, mas fomos desclassificados, com muita razão .

Me emociono toda vez que ouço ou toco a canção tão bem interpretada por Marlene Dietrich ( das Lied ist aus - Frag nicht varum). Por vezes recordo as músicas preferidas de minha mãe e do meu pai.

Fico em demorados silêncios. Doces lembranças de avós, de pais, de parentes, de amigos, de colegas.

Música foi o que me consolou nas solidões.

Sobre silêncio durante a execução sou radical.

Eu ia muito aos concertos da OSPA às terças-feiras, ali na Independência.

Certo dia sentou na poltrona de trás um jovem casal.Ficavam conversando o tempo inteiro e as pessoas em volta fazendo “ pschhhhh”. Não adiantou. Quando a orquestra deu uma pausa  falei: “ olha, vocês erraram de lugar para ouvir música!" O rapaz disse: “ tu quer que a gente vá para onde?”

Retruquei: “ pro bailão do Ari,  ali no Passo da Areia.”


segunda-feira, 15 de março de 2021

RELATO DE ATROCIDADES CONTRA INDÍGENAS

 OS INDÍGENAS DE SOLEDADE

A colaboração a seguir foi enviada por João Riél Manuel Nunes Vieira de Oliveira Brito, autor do livro Tunas-RS, 116 Anos de Fundação, 3 Décadas de Autonomia.

 Soledade, completa em 29 de março 146 anos de emancipação e a presença indígena na região é ainda pouco estudada pelos historiadores. Desde o ano de 1714, Brito Peixoto, capitão da Laguna, já manteve contato com índios locais, onde soube que na Serra do Botucaraí, haveria minas de prata e ouro, exploradas por jesuítas, após desbravar a região, descobriu que as riquezas eram na verdade os grandes ervais ali explorados.

 Em 1788 expedições oficiais lideradas por José Saldanha, que passando pelo território de Soledade encontrou vários ranchos de indígenas ervateiros e viu uma pedra chata e lisa, com a data de 1720 gravada que, aparentemente, além de provar a existência do homem branco no local, era um marco de limites entre antigos ervais. Outras pedras escritas como essa foram encontradas pelo caminho.

Em 1798 José Saldanha, já Capitão do Regimento de Dragões, subia novamente a Serra do Botucaraí, a partir de Rio Pardo, ainda encontra grupos de índios empenhados na fabricação de erva. Observou índios armados com lanças e espingardas, o que prova contato anterior com o homem branco. Nesse local, viu uma grande cruz caída, com um letreiro escrito em língua nativa: O POVO DE SÃO TOMÉ QUANDO PASSA PARA O ERVAL REVERENCIA ESTA CRUZ. 3 DE ABRIL DE 1794.

Quando da abertura da picada do Botucaraí em 1810, vários toldos indígenas foram destruídos, inúmeros silvícolas foram mortos e aprisionados, inclusive crianças. Durante o processo de construção, outros combates com os bugres foram travados. Os exploradores tiveram que pedir reforço para Rio Pardo para poderem continuar.

Conforme Cláudia Aresi: "Os indígenas que viveram em Soledade, no toldo de Lagoão eram em grande número, seriam Guaranis, teriam vindo da região do Paraguai, não quiseram viver isolados, confinados em aldeamentos, preferiram o contato com o homem branco. Em 1909, viviam nesse toldo indígena cerca de 250 índios. Dada a pressão exercida pelas frentes de colonização, parte dos índios transfere-se para o toldo Guarani em 1922. A área do toldo foi discriminada em 1911, em torno de 1.000 hectares, retirados pelo Estado de uma área de 8.000 hectares, de João da Rocha Soares. Mas, logo após a doação aos índios, a família Rocha voltou a apossar-se do território, vendendo a terra aos colonos. A partir de 1918, a área indígena de Lagoão estava colonizada, os índios expulsos e o Estado omisso. Nas décadas de 30 e 40, acentua-se o abandono dos toldos, em grande parte devido a conflitos fundiários com não índios, mas antes da interação com o homem branco, muitos indígenas foram mortos, capturados para trabalharem como escravos, mortos durante aberturas de estradas e picadas, entre tantas outras invasões  e represálias sofridas" .

Segundo Paulo Borges: "Quando Rodolpho Joaquim Borges era Intendente do Soledade (1904/1908), se instalaram na localidade de Serrinha – Lagoão, algumas famílias de índios guaranis originários da região dos matos do Iguaçú no Paraná, cujo Cacique se chamava Zeferino. Eles eram pobres e se instalaram em terras devolutas onde viviam da caça, pesca e dos roçados de sobrevivência. Em 1911 foram até a capital para conversar com as autoridades e pedir ajuda para melhorar de vida. Tiveram atenção das autoridades, receberam boa ajuda e foram recebidos pelo Dr. Carlos Barbosa, Presidente do Estado. Muitas anotações foram feitas na época, sobre a visita e, inclusive foram retratados pelo respeitado fotógrafo Virgílio Calegari. É parte importante e ainda inédita da história da formação étnica, política e cultural da gente soledadense e região."


quinta-feira, 11 de março de 2021

A EPIDEMIA DOS BUGIOS

 Escreveu a Veterinária Eva Müller, vereadora em Santiago:

“Em novembro de 2008 começaram as noticias de mortes de primatas não humanos, bugios, na região de Santiago ,São Francisco e Unistalda , mortes que continuaram até março de 2009 .Essas mortes foram por causa da   Febre amarela , o que desencadeou uma nova campanha de Vacinação . Na localidade de Cerro Chato encontramos muitas carcaças de bugios , perto de sangas o que é sugestivo de que os animais procuravam água por estarem doentes.

Essa mortalidade reduziu significativamente a quantidade de bugios na região, pois não se avistou mais aqueles bandos nas matas. O que é uma lástima, pois o bugio faz parte da biodiversidade animal da região.Neste ano voltam a aparecer bugios mortos na região de Pinhal da Serra divisa com Santa Catarina. A morte foi confirmada por Febre amarela.”

Realmente: na época referida,  em nossos matos começaram a aparecer bugios mortos. Foi tamanha a mortandade que nossa família e todos os peões fomos nos  vacinar contra a febre amarela.

Já se passaram vários anos e até hoje é raro o aparecimento desses simpáticos animais. Calculo que os raros que existem vieram migrando de outras localidades distantes.

Agora vejo mais claro como leva tempo recuperar a fauna em caso de destruição.

Mas o pior aconteceu por falta de esclarecimento. Eu mesmo ouvi, na fila de vacinação, várias pessoas dizendo que iam matar todos os bugios “ porque eles trouxeram a febre amarela”, quando na verdade eles serviram de alerta da doença, nada mais.

Os perdigões, que eram facilmente encontrados nos campos, literalmente desapareceram. Perdizes se tornaram muito raras, tudo por causa da caça predatória.

Inclusive muitos caçadores vinham de outras paragens para caçar em nossa região.

Eu, muitas vezes, fazia patrulha em nossos campos e peguei fama de “ser muito brabo e não deixar caçar”.

Hoje existe já uma consciência de que não se deve caçar no campo nativo.

Graças a isso bem devagarinho começam a reaparecer o lobo guará, o leão baio, os veados campeiros e várias outras espécies selvagens. E nisso tivemos a sorte de ter os campos nativos com árvores, arbustos e gramíneas de variadas espécies, que servem de abrigo, alimentação e morada de muitos bichos. 

………….

Tive uma longa conversa com uma médica amiga minha sobre a pandemia.

A situação está muito perigosa mesmo. Não creio que estejamos na descendente. Se as mortes continuarem nessa velocidade, é bem possível que haja problemas de toda a ordem nas cidades, principalmente as muito populosas.


quinta-feira, 4 de março de 2021

PARA ONDE ESTAMOS INDO?

 Estes tempos de pandemia me empurram para meditar, pensar, tentar não me afligir. Ainda não fui afetado pelo Corona , mas a cada pigarro, dorzinha, tosse , já me alerto e fico pensando: ‘ será que esse desgranido me pegou”? Corro ao banheiro , pego um sabonete e o cheiro. Boa, ainda tenho olfato.

Logo no começo não dava bola e minha vida continuava bela e fagueira. Com o passar do tempo e da morte de vários conhecidos, achei de bom alvitre não facilitar ou, como se diz, não dar chance para o azar.

Me refugiei com minha mulher  em Xangri Lá, a uma quadra do mar, numa casa enorme , o que reconheço que é um absurdo só para duas pessoas. Acontece que eu jamais me adaptaria a ter uma casa num condomínio fechado.Aí seria melhor eu ir morar na fazenda e ficar lá até as coisas melhorarem.Também fico meio desgostoso aos fins de semana nos meses de janeiro e fevereiro quando a orla se infesta de gente espaçosa e ruidosa, para se dizer o menos.

Andei relendo várias obras. Por sinal tenho um amigo bem culto mas que desdenha  tudo o que for best seller Negou-se a ler Sapiens, uma obra de Yuval Noah Harari.

No final dessa obra ele proclama: “ há 70 mil anos o homo sapiens era um animal insignificante cuidando de sua própria vida em algum canto da África. Nos milênios seguintes ele se transformou no senhor de todo planeta e no terror do ecossistema.”

Com efeito. Eu testemunhei o que fizeram com os campos e florestas da região de Ijuí. Eram montanhas e montanhas altas de  árvores derrubadas, acumuladas pelos tratores. Os cursos de água estavam vermelhos de tanto assoreamento, não se plantavam mais frutíferas. Nada , nada a não ser soja ou trigo.

E no mundo dê-lhe guerras " por dá cá aquela palha". 

Não concordo com alguns trechos de Harari, quando diz que a penicilina foi o maior dano que os demais seres sofreram, isso porque o homem conseguiu sustar umas quantas pandemias com essa descoberta. A medida que os séculos foram passando, menos predadores o Sapiens tinha.

Dá a impressão de que a Entidade universal e superior  tenta colocar um cabresto no Sapiens, mas em seguida essa criatura acha uma saída e segue o baile.

O jovem escritor Felipe Kuhn Braun vem de publicar mais uma obra sua ( Famílias Teuto-Brasileiras) em que , numa parte disserta sobre a peste negra que durou de 1346 a 1353 e fez 25 milhões de mortos nos habitantes da Europa na época.

Praza aos céus que a humanidade tome juízo, que aprenda a conviver com os demais seres, garantindo seus espaços neste planeta que está evidentemente doente e moribundo.